Ricardo Maurício é tricampeão da Stock Car em Interlagos

Piloto largou da pole e venceu última etapa do ano, neste domingo. Ricardo Zonta herdou segunda posição e ficou com vice. Confira reprise completa da decisão




Ricardo Maurício é tricampeão da Stock Car em Interlagos

A galeria de pilotos que alcançaram a honra de obter três títulos ou mais na Stock Car – composta, até a manhã de ontem, por Ingo Hoffmann, com 12 troféus, Cacá Bueno, com cinco, Paulo Gomes, quatro, e Chico Serra e Daniel Serra, pai e filho, ambos tricampeões consecutivos, cada uma a sua época – agora passa a incluir o retrato de Ricardo Maurício.

Ao volante do Chevrolet Cruze Stock Car, equipado como motor V-8 de até 550 cv de potência, o piloto da equipe RC Eurofarma venceu de ponta a ponta a última prova da temporada de 2020, disputada neste domingo em Interlagos, São Paulo, garantindo a pontuação necessária para o seu terceiro campeonato na categoria máxima do automobilismo brasileiro, alicerçado pelas conquistas de 2008 e 2013, e o nono da escuderia de Rosinei Campos, o “Meinha”.

Decisão em Interlagos: 11 pilotos e um título

Valendo a premiação dobrada de 60 pontos nesta etapa de encerramento, a categoria ampliou o horizonte de possibilidades matemáticas para a decisão no circuito paulistano a 11 pilotos. Na liderança, Thiago Camilo, com o Toyota Corolla da equipe Ipiranga/A. Mattheis, que chegou a Interlagos com o capacete decorado por rabiscos da filha Luíza, de apenas um ano, e 238 pontos no bolso – um a mais do que o campeão de 2019 Daniel Serra, companheiro de equipe de Ricardinho, então o terceiro na tabela, com 231; a seguir, tinham chances Ricardo Zonta (Shell/RCM-Corolla), Gabriel Casagrande (Júpiter/R.Mattheis-Cruze), Rubens Barrichello (Mobill/Full Time-Corolla), Cezar Ramos (Ipiranga/A.Mattheis-Corolla), Allam Khodair (Blau/TMG-Cruze), Guilherme Salas (America Net/KTF Sports-Cruze), Diego Nunes (Blau/TMG-Cruze) e, por fim, Nelsinho Piquet (Texaco/Full Time Bassani-Corolla). No entanto, Casagrande foi diagnosticado com a covid-19 na véspera da prova e impedido de participar da decisão pela direção médica do evento.

Com uma mínima vantagem, a Chevrolet chegou à prova final com seis carros no páreo, um a mais do que a Toyota. Vale lembrar que este ano a categoria voltou a adotar os chassis monoblocos originais de fábrica, com a marca da gravata borboleta levando para a pista o Cruze Stock Car, equipado o motor de 6,8 litros do Camaro, fabricado nos Estados Unidos e preparado pela JL Racing.

Forças iguais: motores Chevrolet e Corolla são equalizados pela JL Racing

Por seu lado, a Toyota utiliza no Corolla Stock Car o bloco similar também feito nos EUA pela fabricante independente Dart Machinery, porém preparado pela Gazzoo Racing, que é a divisão oficial de competições da marca junto à matriz, no Japão. Os motores de todos os carros da categoria, de ambas as fabricantes, são equalizados pela JL Racing, que é uma tradicional parceira da Stock Car desde introdução dos chassis tubulares na categoria, em 2000, e dos motores V-8, em 2001.

Nos dois casos, os “veoitões” movidos a etanol nacional rendem 460 cv de potência a 6.150 rpm, e torque de 61,2 kgf.m a 5.000 rpm. E quando os pilotos acionam o botão do “push to pass” (aperte para ultrapassar), a potência salta para 550 cv durante 15 segundos, em média, a depender da pista, enquanto o torque sobe para 71,4 kgf.m.

Na largada, Ricardinho manteve a ponta, seguido por di Mauro, Ramos, Zonta e Piquet

Largando da pole-position, “Ricardinho”, como é conhecido intraboxes, liderou todas as voltas e raramente teve a liderança ameaçada, uma situação proporcionada, em parte, pela forte briga entre Gaetano di Mauro (Shell/KTF-Cruze), Ramos, Zonta, Piquet e Serra – que trocaram de posição várias vezes atrás do líder.

Segundo no grid, Gaetano manteve a posição após o sinal verde, seguido por Ramos e Zonta. O ex-piloto de Fórmula 1 imediatamente partiu para cima do terceiro colocado César Ramos, mas, na segunda volta, ao tentar a ultrapassagem, já no meio da Reta Oposta, teve a porta fechada por Ramos, sendo obrigado a sair para a grama. Com muita perícia e um pouco de sorte, Zonta conseguiu evitar o toque no guard-rail e trazer o carro de volta à pista; no entanto, com as entradas de ar repletas de grama, Zonta teve a refrigeração dos freios comprometida e caiu para quinto.

Disputa entre os dois ex-F1 Piquet e Zonta foi uma das mais acirradas da prova

A partir daí, o paranaense passou a travar um emocionante duelo com Piquet, alternando-se com o também ex-F1 na quarta posição, até conquistá-la de vez na passagem pelo Pinheirinho, na quinta volta; porém, sem livrar-se do encalço de Nelsinho até a abertura dos boxes para a parada obrigatória de troca de pneu, na volta 11.

Gaetano di Mauro foi o único a ameaçar o líder da prova

Lá na frente, Ricardinho vivia o seu momento de maior ameaça à vitória na sexta volta, quando Gaetano Di Mauro, que vinha pressionando o líder, usou o botão de ultrapassagem e chegou a colocar o bico do carro na frente do Chevrolet Cruze de Maurício, no final da reta dos boxes. Porém, os carros tocaram-se e o piloto que tentava ganhar a posição passou reto no Esse do Senna, mas ainda manteve o segundo lugar.

“Na verdade, quando ele encostou no meu carro, meu capacete bateu na proteção de cabeça ao lado do banco e deu uma vibrada. Eu pensei que fosse o pneu (que havia estourado), mas não foi nada”, conta Ricardinho, admitindo que levou um susto. “Ele usou o push e tentou frear virando para dentro da curva, então encostou no meu carro”, detalhou o vencedor, momentos antes de subir ao pódio. Na sequência, Gaetano foi superado por Ramos, ficando logo à frente de Zonta.

Líder durante todo o ano, Camilo se despediu da disputa com problema no motor

Na décima volta, a poucos minutos da abertura da janela obrigatória para pit stops, o líder do campeonato Thiago Camillo, após liderar todo o campeonato, encerrou a temporada de 2020 de maneira melancólica, sendo obrigado a recolher o carro no box por quebra do motor, causado pelo derretimento nos cabos de vela.

Bastante desapontado, mas sem perder o controle das emoções, o piloto desabafou: “Foi uma pena, o carro estava muito bom. Estava conseguindo escalar o pelotão, indo para 11º, com ritmo forte, era o mais rápido da pista e quebrou motor. Assim como em 2019, a gente sai da disputa por conta disso mais uma vez”, lamentou Camilo, tricampeão da Corrida do Milhão.

Capacete de Camilo “decorado” pela filha Luiza, de um ano

“Uma pena porque o motor não é responsabilidade da equipe, é uma empresa terceirizada que cuida disso. A equipe trabalhou duro o ano todo. Sou muito grato ao esforço de todos. E é isso, levantar a cabeça e vamos para próxima”, resignou-se o piloto, que acabou na quarta posição do campeonato.

Mas aqui, cabe uma ressalva. Apesar da situação semelhante, os motores que equiparam o carro de Camilo neste ano e na temporada passada vinham de fornecedores diferentes: em 2019 pela JL Racing (Chevrolet) e este ano pela Gazoo Racing (Toyota).

Ricardinho foi um dos primeiros fazer a parada obrigatória para troca do pneu

Retornando à corrida, ainda na volta de nº 10, Zonta ultrapassou di Mauro na Reta Oposta e galgou o terceiro lugar. No fim da volta, já com a janela para trocas de pneu autorizada, Zonta assumiu a liderança, com as entradas imediatas de Ricardinho, Ramos e Gaetano para a parada obrigatória. Para economizar tempo, a equipe de Ricardinho trocou apenas o pneu traseiro esquerdo, lado que fica rente à porta do box.

O combativo Ricardo Zonta ficou com o vice-campeonato

O paranaense estendeu a permanência na pista até a volta 13. Com uma ótima operação dos seus mecânicos, Zonta voltou em terceiro e muito próximo dos dois primeiros colocados. Nas voltas finais, o piloto do carro nº 10 ainda tentou se aproximar dos líderes, mas recebeu a band em terceiro.

Após 24 voltas na pista de 4.309 metros, Ricardinho cruzou a linha de chegada para garantir seu terceiro título depois de sete anos. Cezar Ramos recebeu a bandeirada quadriculada em segundo, com Zonta em terceiro.

Além do próprio tri, Ricardinho conquistou o nono título para a equipe de “Meinha”

Com a façanha, Maurício proporciona à Eurofarma RC o privilégio de contar com dois tricampeões no box – o outro é Daniel Serra, que teve sua série de títulos quebrada agora pelo companheiro de equipe. Esta foi a 17ª temporada de Ricardinho na Stock Car, as últimas 13 pela equipe do paranaense Rosinei Campos, o “Meinha”, integrante da Stock Car que participou de todas as provas da categoria, desde a corrida inaugural, 41 anos atrás.

Após a cerimônia do pódio, que não contou com a presença de Zonta, o terceiro, a direção de prova decidiu punir Ramos pela conduta antidesportiva, adicionando cinco segundos ao tempo final de prova – punição suficiente para relegá-lo do segundo para o quinto lugar. Dessa forma, Zonta acabou herdando a segunda posição na corrida, somando os pontos suficientes para tornar-se o vice-campeão de 2020, seu melhor desempenho na categoria.

Campeão de 2020: “As coisas encaixam naquele ano e 2020 foi o meu”

Nascido em 1979, três meses antes da primeira prova da Stock Car, Ricardo Maurício é um dos mais ecléticos e respeitados pilotos do grid da Stock, atualmente, trazendo no currículo títulos no kart, nos brasileiros de Fórmula Ford e de Endurance, da F-3 espanhola, bicampeão da Corrida do Milhão da Stock Car e, agora, o tricampeonato da categoria.

“Mais uma vitória em Interlagos, uma pista que eu gosto muito. Este tricampeonato significa muito, muita dedicação depois de um ano tão difícil para tantas famílias nessa pandemia. A categoria, junto com os patrocinadores, conseguiu levar o campeonato adiante, com protocolos corretos. E é isso aí, isso é a Stock Car. A equipe toda fantástica; não é que este ano eles trabalharam mais, sempre trabalharam com muita dedicação, todos os anos. Mas as coisas, às vezes, encaixam naquele ano e 2020 foi o meu”, avaliou o novo campeão.

Apesar da pandemia, Stock Car realizou 12 etapas, seguindo à risca os protocolos de saúde

“Muito feliz por mim, por meu pai e minha mãe que estão em casa e não puderam vir me assistir, por minhas filhas e meus amigos que estão aqui comemorando, por toda a minha equipe e pelo Meinha, que tem 41 anos de automobilismo. Nem sei como ele ‘guenta’ esta angústia, esta preocupação corrida a corrida. Então tem que cuidar do ‘véio’, se não ele infarta e não podemos não!”, ironizou Ricardinho. “Agora é focar para 2021.”

A prova deste domingo também marcou o retorno das transmissões da Stock Car para a TV Bandeirantes e as estreias de Luc Monteiro, na narração da prova, e de Reginaldo Leme, nos comentários. Confira a reprise completa da corrida deste domingo:

Resultado da 12ª e última etapa I Interlagos 13.12.2020:

1º – Ricardo Maurício (Eurofarma RC/Chevrolet Cruze) – 24 voltas
2º – Ricardo Zonta (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 3s309
3º – Nelson Piquet Jr. (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 5s002
4º – Daniel Serra (Eurofarma RC/Chevrolet Cruze) – a 6s776
5º – Cesar Ramos (Ipiranga Racing/Toyota Corolla) – a 6s893
6º – Galid Osman (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 14s770
7º – Bruno Baptista (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 18s395
8º – Allam Khodair (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 18s719
9º – Gaetano di Mauro (KTF Sports/Chevrolet Cruze) – a 19s254
10º – Guilherme Salas (KTF Sports/Chevrolet Cruze) – a 19s294
11º – Rafael Suzuki (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 19s853
12º – Diego Nunes (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 20s040
13º – Átila Abreu (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 23s183
14º – Julio Campos (Crown Racing/Chevrolet Cruze) – a 25s261
15º – Cacá Bueno (Crown Racing/Chevrolet Cruze) – a 28s281
16º – Rubens Barrichello (Full Time Sports/Toyota Corolla) – a 44s094
17º – Pedro Cardoso (R. Mattheis/Chevrolet Cruze) – a 55s052
18º – Tuca Antoniazi (Hot Car/Chevrolet Cruze) – a 1 volta
19º – Marcos Gomes (Cavaleiro Sports/Chevrolet Cruze) – a 4 voltas

( Não completaram )
Matías Rossi (Full Time Sports/Toyota Corolla)
Denis Navarro (Cavaleiro Sports/Chevrolet Cruze)
Lucas Foresti (Vogel Motorsports/Chevrolet Cruze)
Felipe Lapenna (Vogel Motorsports/Chevrolet Cruze)
Thiago Camilo (Ipiranga Racing/Toyota Corolla)

Rosinei Campos, o “Meinha”: presente em todas as etapas da Stock Car, desde 1979

Classificação do Campeonato:
1º – Ricardo Maurício – 291
2º – Ricardo Zonta – 278
3º – Daniel Serra – 275
4º – Thiago Camilo – 238
5º – Cesar Ramos – 237
6º – Rubens Barrichello – 234
7º – Nelson Piquet Jr. – 224
8º – Gabriel Casagrande – 224
9º – Allam Khodair – 221
10º – Guilherme Salas – 212
11º – Diego Nunes – 203
12º – Bruno Baptista – 179
13º – Julio Campos – 175
14º – Rafael Suzuki – 172
15º – Átila Abreu – 158
16º – Denis Navarro – 134
17º – Cacá Bueno – 125
18º – Matías Rossi – 121
19º – Galid Osman – 107
20º – Gaetano di Mauro – 104
21º – Marcos Gomes – 88
22º – Lucas Foresti – 87
23º – Pedro Cardoso – 84
24º – Tuca Antoniazi – 50
25º – Felipe Lapenna – 14
26º – Vitor Genz – 11
27º – Vitor Baptista – 8

Fonte: Stock Car e TV Band I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e Youtube




Sobre Universo Motor 1018 Artigos
Jornalista e editor de conteúdo