O mês de janeiro chegou ao fim, mas ainda é tempo de lançar um último olhar sobre o atribulado ano de 2020, sob a perspectiva do mercado nacional de motocicletas. Assim como na maioria dos setores da economia brasileira – e do mundo todo, pode-se dizer -, o segmento das motos foi impactado diretamente pela chegada da Covid-19, que resultou em uma inversão de expectativa.
Em janeiro de 2020, antes da pandemia, portanto, a estimativa da Abraciclo, entidade que representa as empresas fabricantes de motocicletas instaladas no Polo Industrial de Manaus, indicava uma elevação de 6,1% no ritmo das linhas de produção, totalizando 1,17 milhão de unidades ao final de 2020.
Em outubro, no entanto, seis meses após o início das medidas de distanciamento social, que levaram ao fechamento temporário das fábricas, a associação redesenhava o cenário, antevendo a queda de 15,4% na produção com relação a 2019, somando 937 mil motocicletas.
Vale ressaltar que a capital do Amazonas, onde está localizado o Polo Industrial, vem sendo uma das capitais do país mais afetadas pela Covid-19, desde o início da pandemia. As vendas no varejo, sobre as quais a expectativa antes da pandemia era de alta de 5,8%, somando 1,14 milhão de motocicletas, passaram a ter projeção de queda de 16%, para 905 mil unidades.
No entanto, para o presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, os números foram menos negativos quando comparados aos de outros setores da indústria. Segundo o executivo, uma série de fatores favoreceu a recuperação do segmento. O principal deles é o fato de que, se de um lado a pandemia derrubou a produção de todos os setores, inclusive de motocicletas, de outro o próprio distanciamento social determinado pelas autoridades de saúde impulsionou a demanda por serviços de entregas sobre duas rodas, especialmente no ramo de alimentação.
Ao mesmo tempo, é importante observar que esse movimento foi retroalimentado pelo grande contingente das pessoas que perderam sua ocupação profissional por causa da própria pandemia, ou que já estavam desempregadas, e encontraram nessa atividade uma alternativa de trabalho, reforçando a demanda ocasional para o mercado de motos.
“Hoje a motocicleta é indicada para evitar a aglomeração natural no transporte público, representando um meio de locomoção ágil, econômico e de baixo custo de manutenção. Também passou a ser um instrumento de trabalho e fonte de renda para as pessoas que foram atuar nos serviços de entrega”, afirmou Fermanian, ao revisar as projeções para 2020.
Dessa forma, balanço do ano confirmou a queda vertiginosa tanto na produção quanto nas vendas de motos, mas menor do que a expectativa revisada. A atividade das linhas de montagem de Manaus caiu 13,2% no ano passado ao totalizar 961.986 unidades, ante as 1.107.758 fabricadas em 2019. Mesmo assim, o volume superou em 2,2 pontos percentuais as novas previsões da Abraciclo.
Já os emplacamentos, que representam as vendas ao consumidor, somaram 915.157 unidades em 2020, volume 15% inferior ao alcançado em 2019 (1.077.234), mas superando em um p.p. a estimativa da entidade.
Em meio a este novo cenário, de acordo com os resultados de 2020 divulgados pela Fenabrave, a federação que representa o setor de distribuição de veículos automotores no país, a Honda manteve a liderança absoluta do mercado de motocicletas, com 77,7% de participação, mas apontou uma queda de 1,47 p.p. em relação a 2019, quando encerrou o ano com 79,2% do bolo. Não por acaso, a marca japonesa ocupa as seis primeiras posições das 50 motos mais vendidas do país em 2020, com modelos de até 250 cm³ de cilindrada.
Em contrapartida, a segunda colocada Yamaha ganhou, exatamente, o mesmo percentual de mercado, subindo de 14,03%, em 2019, para 15,5%. Outra marca que tem algo a comemorar é a BMW Motorrad, que com a fatia de 1,14% em 2020, tirou a terceira posição da Haojue, que caiu para quarto, com exato 1% de participação. Outra que abocanhou uma fatia maior do mercado foi a Kawasaki, que fechou o ano passado com 0,92%, tomando, assim, a quinta posição da Shineray, que oscilou para a sexta colocação no mercado, com 0,83%. A Triumph (0,53%), Harley-Davidson (0,41%), Dafra (0,36%) e Royal Enfield (0,26%) completam as dez primeiras colocadas na divisão do mercado.
Como sempre, a categoria urbana (ou street), de baixa e média cilindradas, foi a que registrou o maior número de emplacamentos, com 458.577 unidades licenciadas e 50,1% do mercado, de acordo com o balanço divulgado pela Abraciclo na última quarta-feira (27).
E, novamente, a Honda CG 160 foi o modelo mais vendido do país entre todos os tipos de veículos automotores (incluindo automóveis, utilitários, caminhões e ônibus), com 269.226 unidades – praticamente o dobro do volume alcançado pelo Chevrolet Onix, o carro mais vendido do Brasil em 2020, que fechou o ano com 135.351 veículos emplacados.
A Honda CG também fechou honrosamente a lista das 50 motos mais vendidas em 2020, graças aos estoques da pioneira e emblemática versão de 125 cm³, descontinuada em 2019 após mais de quatro décadas de produção.
Na sequência, ficou a classe das trail de baixa e média cilindradas, voltadas ao uso misto entre asfalto e terra (off road), que respondeu por 19,3% (176.975 unidades). Aqui, a preferida pelo consumidor brasileiro foi a Honda NXR 160 Bros, que ficou na terceira posição do ranking geral da Fenabrave. A segunda colocada na categoria (e nona na geral) foi a Yamaha Crosser 150.
As bigtrail – que têm o mesmo tipo de uso, porém contam com motores de maior cilindrada -, tiveram uma participação de 1,7% no mercado, com destaque para a BMW R 1250 GS, a mais vendida desta subcategoria, fechando o ano passado na 22ª colocação no ranking da Fenabrave, nove acima em relação a 2019.
O segmento formado pelos cubs (ou motonetas), scooters e ciclomotores (até 50 cm³) correspondeu a um quarto do mercado (25,1%), com 15,5%, 8,3% e 1,3% de participação, respectivamente.
Na categoria das cubs, o modelo preferido continua sendo a Honda Biz (que tem versões de 110 e de 125 cm³), a segunda colocada no ranking geral do mercado.
Entre os scooters, novamente o mais vendido foi o Honda PCX 150, o sexto na lista da Fenabrave, mantendo a posição em relação a 2019.
E, fechando o segmento, a única “cinquentinha” a aparecer entre as 50 motos mais vendidas de 2020 foi a Shineray YS 50, na 19ª posição.
A categoria das naked (ou “peladas”), com estilo esportivo e que trazem o motor propositalmente exposto, a campeã de vendas foi a Yamaha MT-03, que subiu duas posições em relação ao ano anterior e fechou 2020 na 18ª posição entre as 50+ da Fenabrave.
Subindo os giros, o modelo preferido entre as supernaked foi, novamente, a Honda CB 500F, que também manteve a 24ª posição no ranking.
Vale destacar também o desempenho da Yamaha MT-09, que saltou 11 posições e foi a 30ª moto mais vendida do país no ano passado.
A campeã de emplacamentos na categoria das esportivas foi a Yamaha YZF-R3, que cruzou a linha a linha final de 2020 na 31ª colocação no ranking geral, quatro posições acima em relação ao ano anterior.
E na mais veloz de todas as categorias, o melhor desempenho coube à nova BMW S 1000 RR, a única representante das superesportivas entre as 50 motos mais vendidas em 2020 no Brasil.
Lançada no mercado nacional em setembro de 2019, o míssil alemão encerra seu primeiro ano completo de vendas na 44ª posição, com mais de 930 unidades entregues – o que não dá para garantir que foram emplacadas, já que parte delas teve como destino as pistas de corrida.
Por fim, o território das estradeiras, dominado pela Kawasaki. Com uma participação de 0,6% do mercado, o segmento das custom teve como sua representante preferida a Kawasaki Vulcan S 650, que ficou com a 41ª posição no ranking da Fenabrave, melhorando quatro colocações sobre o ano anterior.
Já as Touring – nascidas para cruzar longas distâncias, com ou sem destino – fecham o ranking de vendas por categoria com uma participação que não chega a 0,1%, mas que sintetiza todo o seu espírito de liberdade na Kawasaki Versys 300-X, 39ª no ranking e cinco posições melhor do que em 2019.
Felizmente, o sinal de recuperação para o setor de motocicletas foi avistado já em dezembro, quando as vendas apresentaram alta de 5% em comparação ao último mês de 2019, com o emplacamento de 98,8 mil unidades.
Para 2021, a Abraciclo estima que o total de unidades vendidas chegue a 980 mil, o que representaria a alta de 7,1% sobre 2020. Em relação à produção, a entidade estima que saiam das linhas de montagem instaladas em Manaus o volume de 1,06 milhão motocicletas, volume que corresponde ao aumento de 10,2% na comparação com as 961.986 unidades fabricadas no ano passado.
Segundo Fermanian, a expectativa do setor é amortizar parte da queda do último ano. “A chegada da vacina será o ponto chave para recuperarmos as perdas provocadas pela maior crise, tanto sanitária quanto econômica, que já enfrentamos. Por isso, acreditamos que a tendência é que a produção de motocicletas siga em ascensão nos próximos meses”, concluiu.
Confira quais foram as 50 motos mais vendidas no Brasil em 2020:
Posição | Modelo | Segmento | Unidades | Posição em 2019 (Variação) |
1º | HONDA CG 160 TITAN | URBANA | 269.226 | 1º (0) |
2º | HONDA BIZ 110i e 125i | CUB | 139.485 | 2º (0) |
3º | HONDA NXR 160 BROS | TRAIL | 101.177 | 3º (0) |
4º | Honda Pop 110i | Cub | 82.877 | 4º (0) |
5º | Honda CB 250F Twister | Urbana | 28.629 | 5º (0) |
6º | HONDA PCX 150 | SCOOTER | 26.629 | 6º (0) |
7º | Yamaha Fazer 250 | Urbana | 23.655 | 7º (0) |
8º | Yamaha YBR 150 Factor | Urbana | 22.609 | 10º (+2) |
9º | Yamaha XTZ Crosser 150 | Trail | 21.652 | 9º (+1) |
10º | Honda XRE300 | Trail | 16.976 | 8º (-2) |
11º | Yamaha XTZ 250 Lander | Trail | 15.385 | 13º (+2) |
12º | Honda Elite 125 | Scooter | 14.024 | 12º (0) |
13º | Honda XRE 190 | Trail | 13.711 | 11º (-2) |
14º | Yamaha Nmax 160 | Scooter | 12.488 | 14º (0) |
15º | Yamaha 150 Fazer | Urbana | 11.010 | 17º (+2) |
16º | Yamaha Neo 125 | Scooter | 10.845 | 15º (-1) |
17º | Yamaha Factor 125 | Urbana | 9.228 | 16º (-1) |
18º | YAMAHA MT-03 | NAKED | 6.610 | 20º (+2) |
19º | Shineray XY 50** | Ciclomotor | 6.324 | 18º (-1) |
20º | Haojue DK 150 | Urbana | 4.463 | 21º (+1) |
21º | Honda SH | Scooter | 3.804 | 22º (+1) |
22º | BMW R 1250 GS** | Bigtrail | 3.680 | 31º (+9) |
23º | Yamaha Xmax 250 | Scooter | 3.153 | Lançado em 2020 |
24º | Honda CB 500F** | Supernaked | 2.673 | 24º (0) |
25º | BMW G 310 GS | Trail | 2.248 | 28º (+3) |
26º | BMW F 850 GS | Bigtrail | 2.218 | 29º (+3) |
27º | Haojue Chopper 150 | Urbana | 2.166 | 25º (+2) |
28º | Honda NC 750X | Bigtrail | 2.022 | 26º (-2) |
29º | Honda CB 650R | Supernaked | 1.946 | 30º (+1) |
30º | Yamaha MT-09 | Supernaked | 1.675 | 41º (+11) |
31º | YAMAHA YZF-R3 | ESPORTIVA | 1.645 | 35º (+4) |
32º | Triumph Tiger 800 | Bigtrail | 1.531 | 27º (-5) |
33º | Yamaha MT-07 | Supernaked | 1.523 | 33º (0) |
34º | Kawasaki Z400 | Naked | 1.271 | 50º (+16)*** |
35º | Kawasaki Ninja 400 | Esporte | 1.267 | 39º (+4) |
36º | Triumph Tiger 900 | Bigtrail | 1.240 | Lançada em 2020 |
37º | Dafra Citycom 300i | Scooter | 1.120 | 32º (-5) |
38º | Kawasaki Z900 | Supernaked | 1.111 | 40º (+2) |
39º | KAWASAKI VERSYS 300-X | TOURING | 1.080 | 44º (+5) |
40º | Honda CG 125 Cargo | Urbana | 1.047 | Encerrada em 2019 |
41º | KAWASAKI VULCAN S 650 | CUSTOM | 1.036 | 46º (+5) |
42º | Shineray JET 125 | Cub | 1.031 | N/D |
43º | Kawasaki Versys 650 | Touring | 975 | N/D |
44º | BMW S 1000 RR** | Superesportiva | 932 | N/D |
45º | Suzuki GSX-S750 | Supernaked | 896 | 34º (-11)**** |
46º | Royal Enfield Himalayan | Trail | 866 | 47º (+1) |
47º | Royal Enfield Interceptor | Custom | 819 | N/D |
48º | Honda CB 1000R | Supernaked | 794 | N/D |
49º | Triumph Tiger 1200 | Bigtrail | 743 | 42 (-7) |
50º | Honda CG 150 Fan | Urbana | 665 | 38º I Enc. em 2019 |
Base de dados de 2020 fornecida pela Fenabrave
*MAIS VENDIDA DA CATEGORIA
**Mais vendida da subcategoria
***Modelo com maior alta em relação a 2019
****Modelo em produção com maior queda em relação a 2019
Fontes: Abraciclo e Fenabrave I Reportagem: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e Agência Brasil