Parece roteiro de cinema, mas, 50 anos depois de alinhar pela última vez seus bólidos vermelhos entre a elite do Campeonato Mundial de Endurance (WEC), a multicampeã Ferrari vai ocupar a posição de honra da 24 Horas de Le Mans 2023, com seus dois hipercarros 499P na primeira fila.
Representada pela equipe italiana AF Corse, a Casa de Maranello faz sua estreia na categoria Le Mans Hypercars (LMH) – restrita a carros de propulsão híbrida, que combina o motor V-6 a combustão a uma unidade elétrica, e tração nas quatro rodas -, em seu retorno à categoria máxima do endurance.
Na sessão chamada de hiperpole (que define a pole-position para os hipercarros), disputada nesta quinta-feira (8), o piloto italiano Antonio Fuoco, com a Ferrari 499P nº 50, superou por apenas 0m773s o compatriota Alessandro Pier Guidi, com a machinna gêmea nº 51 – até ali, a mais rápida na pista -, colorindo inteiramente de vermelho a fila de honra do grid.
A largada para a edição histórica da mais famosa prova de resistência a motor do mundo, no mítico circuito de 13,6 km de La Sarthe, está programada para este sábado (10), tradicionalmente às 16h no horário local (11h em Brasília).
A primeira prova de 24 Horas em Le Mans teve largada em 26 de maio de 1923, com a participação de 33 carros, de marcas como Delage, Rolland-Pilain, Lorraine-Dietrich, Amilcar, Corre La Licorne e outras marcas já extintas, exceto a Bugatti. O vencedor foi um Chenard et Walcker, pilotado pelos franceses André Lagache e René Léonard. De lá para cá, a prova só deixou de ser disputada entre os anos de 1940 e 1948, por causa da Segunda Guerra Mundial.
Vale lembrar que o fato de duas Ferrari largarem em primeiro e segundo na 24 Horas de Le Mans não é inédito. Isso também aconteceu na última aparição oficial da fábrica italiana na categoria principal, em 1973. Na ocasião, o mexicano Arturo Merzario, fazendo dupla com o brasileiro José Carlos Pace ao volante do protótipo aberto 312 PB, cravou o melhor tempo, logo à frente do belga Jacky Ickx, umas das lendas de Le Mans, e Brian Redman, em um modelo idêntico.
De volta à edição deste ano, os 499Ps ocuparam os primeiros lugares já desde o início da hiperpole, disputado em pista seca. O primeiro a assegurar a pole para a Ferrari foi Guidi, logo em sua volta de abertura na classificação, com o tempo de 3m23s897.
Apesar do tráfego na pista, com os oito melhores carros de cada classe em ação, o piloto italiano de 39 anos baixou o tempo para 3m23s755, mantendo o trio completado por James Calado e Antonio Giovinazzi à frente do grid. Na segunda parte da sessão cronometrada de trinta minutos, realizada na quarta-feira, o companheiro de equipe Antonio Fuoco diminuiu a diferença, a princípio, para (quase) imperceptíveis 0m008s, depois baixando o tempo ainda mais, para fechar a volta em 3m22s982.
A volta espetacular conseguida por Fuoco, que divide o cockpit com Miguel Molina e Nicklas Nielsen, rendeu ao Cavallino Rampante uma pole position histórica em seu retorno à disputa pela vitória geral em Le Mans, após meio século de ausência.
Esta foi a segunda pole da equipe Ferrari-AF Corse e de Fuoco em 2023, juntando-se à conquistada em março, na 1000 Milhas de Sebring, nos Estados Unidos, etapa de abertura da temporada do WEC. Ao mesmo tempo, o piloto de 27 anos, nascido em Cariati, também se torna o primeiro italiano desde Rinaldo Cappello, em 2006, a ser o mais rápido em Le Mans.
Desbancada do trono, a Toyota teve de se consolar com a terceira posição no grid para o seu ex-imbatível Gazoo Racing GR010, tendo ao volante do carro nº 8 o neozelandês Brendon Hartley, ao lado do francês Sebastien Buemi e do japonês Ryo Hirakawa – trio vencedor da corrida do ano passado.
Atual pentacampeã consecutiva de Le Mans, a Toyota havia largado da pole position nas últimas seis edições da prova.
A quarta posição foi assegurada pelo brasileiro Felipe Nasr com o Porsche 963, carro que também faz sua estreia em Le Mans. Ostentando o nº 75 na carroceria, o carro da equipe oficial Penske Porsche Motorsport faz homenagem às bodas de diamante da marca alemã.
Outro fato histórico importante a ser lembrado neste centenário da 24 Horas de Le mans é que a Porsche é a marca com maior número de vitórias gerais na prova, com 19 triunfos – simultaneamente aos outros 108 por categorias.
Na classe LMP2 (que reinava como a mais veloz do WEC até a estreia da LMH, em 2021), todos os sete carros inscritos usam o mesmo conjunto, formado pelo chassi francês Oreca (versão 07), com motor V-8 de 4,2 litros de cilindrada, aspirado, produzido pela britânica Gibson. O piloto local Paul Loup-Chatin conquistou a pole com o carro nº 48, da equipe Idec Sport, registrando o tempo de 3m32s923 – logo atrás dos oito hipercarros do grid e a quase 10s da Ferrari 499P de Fuoco.
A segunda posição na LMP2 foi assegurada por Pietro Fittipaldi (neto do bicampeão de F1 e da 500 Milhas de Indianápolis), da equipe WRT, que, mais uma vez, mostrou ritmo rápido, mas acabou perdendo a pole na última volta, a apenas 0s1122 de Chatin.
Enquanto isso, na classe LMGTE AM, aberta a modelos de produção em série, Ben Keating, com o Corvette nº 33, conquistou a primeira posição do grid, com 3m52s376. Foi a terceira pole do supercarro da Chevrolet em Le Mans desde o início do WEC, e a segunda na classe GTE AM.
O segundo no grid da LMGTE AM Ahmed Al Harthy, de Omã, com o Aston Martin Vantage AMR da equipe ORT by TF. O suíço Thomas Flohr, com a Ferrari 488 GTE EVO nº 54, inscrita pela equipe oficial AF Corse, foi o terceiro, garantindo fabricantes diferentes nas três primeiras posições.
O tricampeão da Stock Car Daniel Serra larga em sexto na categoria, também com uma Ferrari GTE EVO nº 57, da equipe Kessel Racing.
A chegada da 100ª edição da 24 Horas de Le Mans está prevista para as 16h deste domingo, no horário local (11h no horário de Brasília).
Fonte: FIA WEC, Ferrari, Porsche, Toyota e Wikipedia I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação