Certo dia, o Comendador Enzo Ferrari (1898-1988) afirmou que “Carro bonito é o que vence corridas.” E il capo sabia o que estava falando. Afinal, nenhuma outra equipe da Fórmula 1 produziu mais máquinas tão belas quanto a escuderia fundada por ele mesmo, em 1947, que traz em seu histórico 238 vitórias e 16 títulos de construtores, até o momento – marcas que estão longe de ser alcançadas. E, mesmo em épocas de vacas magras como a atual, que se arrasta desde o GP de Cingapura de 2019 – quando Sebastian Vettel e Charles Leclerc conquistaram, também, a última dobradinha para a equipe -, a Casa de Maranello jamais deixou de produzir máquinas sedutoras.
Mais uma prova disso é a recém-apresentada Ferrari F1-75, o 68º monoposto que a única fabricante a participar de todas as temporadas da Fórmula 1 construiu para competir na categoria máxima do automobilismo. O visual completamente inédito é resultado da interpretação dos seus engenheiros sobre o novo regulamento técnico que entra em vigor este ano, incluindo os pneus com aro de 18″.
Ostentando formas extremamente orgânicas e dramáticas, repleta de nervuras e elementos aerodinâmicos, a F1-75 até poderia se passar por mais uma das versões do Batmóvel criadas para as aventuras do Homem-morcego no cinema, caso mantivesse a aparência escurecida original da fibra de carbono. Em vez disso, o novo carro também é caracterizado por um tom inédito de vermelho, especialmente desenvolvido pelo Ferrari Style Centre para celebrar o 75º aniversário de fundação da equipe, este ano, complementado pela cor preta que torna a cobrir o spoiler dianteiro e a inovadora asa traseira, relembrando o visual que marcou os carros da equipe até meados da década de 1990.
A data especial também é destacada no logotipo comemorativo visto na parte mais alta do carro, junto da bandeira italiana, outra característica de longa data nos bólidos da Ferrari de Fórmula 1, assim como o escudo amarelo com o Cavallino Rampante, símbolo da equipe.
“A F1-75 é a expressão do talento, comprometimento e paixão de cada um de nós. É o resultado do trabalho de uma equipe que, como nunca, enfrentou a tarefa com um novo espírito e abordagem, avançando ao máximo em termos de inovação de cada componente, cada detalhe, cada solução”, destacou Mattia Binotto, diretor executivo da Ferrari e autoridade máxima da equipe dentro dos boxes.
A responsabilidade de conduzir os bólidos vermelhos nos Grandes Prêmios ficará a cargo da mesma dupla do ano passado, formada pelo monegasco Charles Leclerc e o espanhol Carlos Sainz.
Na reserva, a escuderia também poderá contar com os serviços de Mick Schumacher, atual piloto titular da equipe Haas e filho do heptacampeão que conquistou cinco dos seus títulos pela Ferrari, e de Antonio Giovinazzi, desligado da equipe Alfa Romeo ao final de 2021. Robert Shwartzman assume o volante nos testes e participará de dois treinos livres de sexta-feira ao longo da temporada.
A fase de design da F1-75 foi baseada em uma perspectiva não convencional, segundo a fabricante. Entre os elementos que se destacam estão o nariz rebaixado e toda a carenagem, na qual foi dada atenção especial à cobertura da unidade de potência – como é chamado o sistema de propulsão híbrido, a combustão e elétrico -, a fim de oferecer o menor atrito aerodinâmico possível.
Este ano também marca o retorno do efeito-solo, após uma ausência de 40 anos, conceito que, por meio do direcionamento específico do fluxo de ar sob o carro, cria uma área de extrema baixa pressão que o faz literalmente grudar na pista. Paralelamente, o aumento do aro dos pneus de 13 para 18 polegadas permitirá aos pilotos disporem de maior autonomia entre um pit stop e outro.
A F1-75 tem chassi moldado com material compósito de fibra de carbono, o mesmo utilizado na barra protetora sobre o cockpit, conhecida como Halo, carenagens e assento. Seu peso total, incluindo líquidos refrigerantes, lubrificantes e piloto, é de 795 kg.
As suspensões são do tipo push-rod na dianteira, que empurra a haste de conexão entre a roda e o amortecedor, e pull-rod na traseira, que, ao contrário, puxa a haste. Os freios produzidos pela também italiana Brembo empregam discos ventilados de fibra de carbono nas quatro rodas, com controle eletrônico para o conjunto traseiro.
O conjunto de propulsão híbrido, chamado de unidade de potência, utiliza o motor a combustão 066/7, de 1,6 litro de cilindrada, com seis cilindros em V e ângulo de 90° entre as bancadas, quatro válvulas por cilindro, sobrealimentado com turbocompressor simples.
O sistema de injeção direta de combustível tem pressão máxima de 500 bar e fluxo limitado a 100 kg/hora. Para assegurar maior durabilidade do propulsor, o regime máximo de giros do virabrequim é de 15.000 rpm, determinado pelo regulamento. A potência e o torque totais não foram divulgados.
O V-6 é combinado ao sistema de recuperação de energia (ERS), que por meio de motores geradores, converte o movimento cinético das rodas durante as frenagens em eletricidade, a qual é armazenada num conjunto de baterias de íons de lítio, com peso mínimo de 20 kg e capacidade máxima de 4 MJ (megajoules). Esse sistema conhecido como MGU-K – sigla, em inglês, para unidade motor gerador cinética (ou kinetic) – é capaz de adicionar 163 cv de potência ao conjunto motriz do carro. Faz parte da unidade de potência, também, o MGU-H (de heat, ou calor, em português), que gera eletricidade a partir das altas temperaturas emanadas pelo motor a combustão.
A transmissão usa caixa de marchas com oito velocidades (mais a ré), combinada ao diferencial traseiro controlado hidraulicamente.
“Sabemos que as expectativas são altas e estamos prontos para enfrentar nossos adversários. Essa é a melhor parte deste desafio e é o que torna nosso trabalho tão fascinante”, afirmou Binotto. “Gostaria que a F1-75 fosse o carro que permitirá aos nossos fãs, mais uma vez, se orgulharem da Ferrari. Nosso objetivo é reacender a lenda do Cavalo Empinando e só podemos fazê-lo vencendo de novo. Isso exigirá um carro rápido e dois grandes pilotos, e nós os temos.“
Fonte: Scuderia Ferrari I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e redes sociais