O que você faria se fosse o indivíduo mais abastado do mundo, dispondo do saldo em conta de R$ 893 trilhões? Muito provavelmente, depois experimentar todos os prazeres que a vida terrena pode oferecer, como mansões, supercarros, jatinhos e iates, você pensaria em algo ainda mais extraordinário e inacessível para 99,9% dos outros habitantes deste planeta, como a experiência de uma viagem ao espaço, por exemplo.
Pois é exatamente nesta aventura em que o biliardário estado-unidense Jeff Bezos, 57 anos – fundador da Amazon, a maior empresa de comércio eletrônico global, e, na data de hoje, o homem mais rico da face da Terra, com um patrimônio estimado em US$ 177 bilhões – vai se lançar a bordo do New Shepard, foguete construído e operado pela Blue Origin, empresa voltada à exploração espacial, também criada por ele. O voo acontecerá no próximo dia 20 de julho, mesma data da chegada do homem à Lua, em 1969 – e cujo retorno para lá está nos planos de Bezos, em um futuro não muito distante.
E Jeff não vai só. Por meio de sua conta no Instagram, ele anunciou, ontem (7), que viajará no primeiro voo tripulado da nave em companhia do irmão, Mark, e do vencedor do leilão da terceira vaga disponível a bordo. Até o fechamento desta matéria, o lance havia alcançado a cifra de 3,5 milhões de dólares (ou R$ 17,6 milhões). Fazendo, então, uma conta simples, com base no tempo total de voo, estimado em 10 min, e no valor oferecido atualmente, cada volta do ponteiro dos minutos a bordo custará, então, a bagatela de 1,7 milhão de reais, ou R$ 29.333 por segundo – valor que pode ficar ainda mais estratosférico com a escalada de novos lances. E, claro, sem serviço de bordo.
Assim, caso seja do seu interesse, acessando esse link é possível se cadastrar para enviar uma ou mais ofertas até esta quinta-feira (10), quando será batido o martelo virtual. O anúncio do vencedor vai ser feito no próximo sábado, por meio de uma transmissão de vídeo, ao vivo, pela internet.
O New Shepard é um foguete suborbital reutilizável, desenhado para lançar astronautas ou cargas de até 45 toneladas, dedicadas a pesquisa, para além da linha de Kárman – um limite adotado internacionalmente, localizado à altitude de 100 km acima do nível do mar, usado para definir a fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço sideral.
O nome dado à nave é uma homenagem a Alan Shepard, o primeiro astronauta da Nasa (a agência espacial oficial dos Estados Unidos) a ser enviado à órbita da Terra pelo projeto Mercury, em 1961, como preparativos para a chegada do homem à Lua, oito anos depois.
O foguete partirá da base de lançamentos da Blue Origin, chamada de Launch Site One, localizada a oeste do estado do Texas. Após a decolagem, representada como a referência “T zero” na linha do tempo da viagem, com cerca de dois minutos de voo (T+2), o New Shepard alcançará a velocidade de Mach 3 – ou seja, três vezes a velocidade do som, acima dos 3.672 km/h -, impondo os tripulantes a uma força de aceleração de mais de 3 g, o que significa o triplo da força da gravidade exercida na superfície terrestre. Ela não deve ser confundida com a unidade grafada em G (maiúsculo), utilizada para a constante gravitacional estabelecida por Isaac Newton.
Este é o primeiro nível de aceleração em que uma pessoa comum pode sentir algum desconforto físico causado pela velocidade, mas que raramente provoca desmaios ou qualquer outro tipo de reação. É uma situação comum a todos os astronautas, desde os que viajaram para a Lua ou nos aposentados ônibus espaciais, até os tripulantes dos foguetes mais recentes enviados à ISS, a Estação Espacial Internacional, em órbita da Terra.
Seguindo o lançamento, um minuto depois (T+3) de atingir a tripla velocidade supersônica, o foguete inicia a entrada na altitude de zero gravidade, já próximo da linha de Kárman (vale lembrar, localizada a 100 km acima do nível do mar); nesse ponto da viagem, o corpo do foguete que abriga os motores se desconecta do módulo onde está a tripulação, aterrissando em posição vertical, sete minutos depois, no local especificamente preparado e distante 3,2 km da base de lançamento, por conta do movimento de rotação da Terra.
Enquanto isso, lá em cima, a cápsula continuará subindo, pelo efeito da inércia, por mais um minuto depois da separação do foguete (T+4), até atingir o ponto mais alto da parábola descrita no percurso da viagem – o chamado apogeu -, oferecendo aos tripulantes a experiência de gravidade zero e, para descrédito dos terraplanistas, a visão da curvatura do nosso planeta. Com isso, os tripulantes da New Shepard passam a ser reconhecidos como astronautas, de acordo com as normas internacionais.
Dois minutos depois (T +6), já em movimento de descida, a cápsula atravessa de volta a linha de Kárman, começando a devolver aos viajantes a sensação da gravidade. Passados mais três minutos (T+9), é dado o primeiro passo do procedimento de aterrissagem conhecido como RSS – sigla de Reusable Space Ship, ou Nave Espacial Reutilizável. É quando são acionados os três paraquedas para suavizar a velocidade de descida do módulo, que a esta altura é de 26 km/h. O ritmo da queda é reduzido a 1,6 km/h, até que, um minuto depois de abertos os paraquedas (T+10), com o auxílio de retrofoguetes, o módulo toca suavemente o solo do deserto do Texas, colocando o ponto final na viagem.
Neste vídeo, gravado de dentro da cápsula, durante um dos 15 voos de testes realizados pela Blue Origin – todos finalizados com sucesso, de acordo com a empresa –, é possível acompanhar cada fase do lançamento, dando a ideia de como será a experiência de voo dos irmãos Bezos e o terceiro viajante a bordo do New Shepard:
Prestes a trocar a cadeira de presidente-executivo da Amazon pelo comando do conselho administrativo da empresa, no início de julho, Bezos dedica-se atualmente uma corrida espacial particular com o sul-africano Elon Musk, 49 anos, radicado nos Estados Unidos, o segundo homem mais rico do mundo – e, eventualmente o primeiro, de acordo com a variação das ações da Tesla, a fabricante de veículos elétricos fundada por ele.
A exemplo de Bezos, que criou a Blue Origin em 2007, Musk também estabeleceu uma empresa desenvolvimento aeroespacial, a SpaceX, em 2011, que, entre outras façanhas, já concluiu duas viagens do foguete Crew Dragon até a ISS, em parceria com a Nasa, levando dois astronautas na estreia de seus voos tripulados, em 2020 (a primeira a partir do solo dos Estados Unidos desde o fim da era dos ônibus espaciais, há dez anos), e quatro na segunda, realizada no final de abril. Por enquanto, ao passo em que a meta de Bezos é levar seus compatriotas de volta à superfície da Lua daqui a três anos, os planos de Musk são mais ambiciosos e preveem o desembarque dos primeiros humanos em Marte já em 2026. Outro bilionário que atualmente se dedica a oferecer viagens espaciais é o britânico Richard Branson, com a Virgin Galactic, que promete passeios fora da atmosfera terrestre já no início do ano que vem.
“Desde os meus cinco anos de idade eu venho sonhando em viajar para o espaço. E no dia 20 de julho, eu farei essa viagem com meu irmão”, comemorou Bezos
O valor arrecadado pelo leilão deste primeiro voo tripulado do New Shepard será direcionado para a fundação Club for the future (Clube para o Futuro), mantida pela própria Blue Origin, que tem como princípio inspirar as futuras gerações a buscar carreiras em Stem (sigla, em inglês, para ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e contribuir para inventar o futuro da vida no espaço. Sem dúvidas, uma missão especial.
Fonte: Blue Origin e Wikipedia I Tradução e edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação