Um conceito de motocicleta tão sofisticado quanto mítico celebra seu 40º aniversário em 2020: a BMW Motorrad GS – sigla do alemão Gelände Strasse, que significa campo e estrada, ou uso misto. No outono de 1980, a BMW Motorrad, divisão de motocicletas da marca bávara, apresentou a R 80 G/S, um modelo que combinou, pela primeira vez, segundo ela, aptidões para off-road, estrada e uso diário. Graças à combinação única, o modelo tornou-se o precursor de uma nova categoria, a das bigtrails (trilheiras grandes), também conhecidas como supertrails ou, ainda, de enduro touring.
As características extraordinárias da linha GS – sobretudo a dinâmica de pilotagem, o domínio e robustez para o fora de estrada, combinado ao conforto para todas as situações – foram continuamente mantidas e desenvolvidas ao longo das últimas quatro décadas e transferidas com sucesso para outras linhas de modelos de seu catálogo, destaca a fabricante.
O ponto de partida para a GS aconteceu em 1980, no sul de França, quando a BMW Motorrad apresentou a primeira moto dual-sport (duplo esporte) de grande porte do mundo, a R 80 G/S. Desde então, a fabricante alemã vem liderando esse segmento que ela mesmo criou – compartilhado, posteriormente, por todas as grandes fabricantes europeias e japonesas.
Nos anos 50 e 60 a BMW Motorrad continuava entregando ao mercado internacional suas grandes motos estradeiras, robustas e confiáveis, baseadas no motor de dois cilindros opostos, conhecido como boxer.
Com a chegada ao mercado, no final dos anos 60, dos modelos asiáticos com motores de quatro cilindros em linha, com destaque para a Honda CB 750, que se popularizaram em todo o mundo, as demais fabricantes foram desafiadas a reinventar seus produtos.
Em 1979, no auge de uma crise financeira e sob o risco de fechar as portas, a BMW Motorrad designou Karl Heinz Gerlinger como seu novo diretor de vendas e marketing e colocou sob a responsabilidade o projeto de um produto para esta faixa de cilindrada. Decidido a fazer algo que ninguém havia feito antes, Gerlinger trouxe para a equipe de desenvolvimento Laszlo Peres, que além de engenheiro de motores, era dedicado piloto de off-road.
No início da década de 60, Peres havia construído, por conta própria, um motor boxer de 800 cm³ para participar de competições na Alemanha. Após a escalada de bons resultados, outros pilotos passaram a procurá-lo, interessados em adquirir um modelo igual. Peres atendeu os pedidos e, em 1964, os primeiros protótipos G/S eram vistos disputando o campeonato nacional de off-road.
A equipe encarregada de desenvolver a nova motocicleta da BMW Motorrad contou também com a participação do engenheiro Rudiger Gutsche, designado para liderar o projeto. Desta parceria surgiu a Red Devil (Diabo Vermelho), que estreava uma versão mais compacta do tradicional motor boxer.
Os responsáveis pelo projeto optaram por utilizar o motor R80 – com cilindros de Nikasil (revestimento interno que permite o contato entre os cilindros e pistões feitos de alumínio), ignição eletrônica e cerca de 10 kg mais leve, resultado direto do maior uso de ligas metálicas. Outra característica desse motor era o sistema de escapamento 2 em 1, com saída elevada. A partida elétrica era oferecida como item opcional.
A ciclística do novo modelo teve como base o chassi da R65, com estrutura tubular de berço duplo. Os garfos dianteiros, com 200 mm de curso, vieram da R 100 GS, enquanto a suspensão traseira foi inteiramente redesenhada, com transmissão por eixo cardã e balança traseira em uma só peça.
Estava criado, então, o conceito Monolever, que oferecia de 170 mm de curso e contava, ainda, com filtro de ar adequado ao uso severo na poeira. Os freios Brembo, com disco dianteiro de 260 mm de diâmetro, e traseiro com 200 mm, paravam o modelo em espaços seguros.
A BMW Motorrad R80 G/S causou o impacto esperado ao ser apresentada à imprensa mundial, em 1980. O modelo trafegava com desenvoltura nas cidades, atingia velocidades elevadas e superava terrenos difíceis. Apesar de pioneiro, o modelo tinha especificações que impressionam até diante de motos atuais. Seu motor desenvolvia a potência máxima de 50 cv a 6.500 rpm, com pico de torque de 5,7 kgfm a 4.000 giros, permitindo à R80 G/S atingir a máxima de 180 km/h e alcançar a autonomia em torno de 400 km, com seu tanque de 20 litros.
Já no ano seguinte, o piloto francês Hubert Auriol conquistou o primeiro título para a GS, e logo no prestigiado e desafiador Rally Paris-Dakar.
Com o sucesso de crítica e de pista imediatos, as vendas disparam, fazendo com que os negócios da BMW Motorrad ganhassem um novo fôlego. Desde então, a marca se mantém no topo do ranking das bigtrails, com a GS ocupando a posição de modelo mais vendido desse segmento em todo o mundo.
A pioneira R80 G/S ficou em linha até 1987, quando foi sucedida pela R 1000 GS, que, novamente, trazia um projeto inovador e tornou-se referência entre as trails de alta cilindrada. Pela primeira vez, a suspensão traseira adotava o Paralever, sistema com braço articulado único, e que incorporou o conceito de paralelogramo deformável, considerado a concepção mais avançada do mercado até hoje.
Em 1993, o modelo ganhou a primeira suspensão dianteira Telelever, na qual cada bengala do garfo duplo atua com função diferente, uma de mola e a outra de amortecedor.
A terceira geração da GS estreou em 1994, lançando o motor de quatro válvulas e 1.100 cm³ de cilindrada na R 1100 GS. Ainda no mesmo ano, a linha Gelände Strasse cresceria um pouco mais, com a chegada das primeiras monocilíndricas Funduro – fusão das palavras em inglês Fun (diversão) e Enduro, uma das modalidades fora de estrada -, nos modelos F 650 e F 650 ST, produzidos até 2000.
As caçulas da família foram anunciadas como as motos ideais para o dia a dia e tinham como público-alvo os motociclistas que pretendiam se aventurar em longas viagens por todo o tipo de terreno. Elas mostraram seu potencial ao vencer novamente o lendário rali Paris Dakar nas edições de 1999 e 2000.
O motor da R 1100 GS foi substituído, em 2000, pela versão de 1.150 cm³, dando origem ao belo modelo R 1150 GS.
O início do novo milênio também foi marcado pela chegada da F 650 GS Dakar, com preparação mais adequada ao fora de estrada e produzida até 2008.
Em 2009, a BMW Motorrad deu início à produção de motocicletas no Brasil, com a fábrica instalada em Manaus, estrando com a monocilíndrica G 650 GS. A versão Sertão teve lançamento mundial no Brasil em 2011, com conceito também off-road, incluindo o aro de 21 polegadas na dianteira.
A partir de 2018, a família G 650 foi sucedida pelos modelos F 800 GS e F 850 GS, com motor bicilíndrico paralelo refrigerado a líquido, que desde então lideram as vendas em seus segmentos de mercado.
No ano passado, quando completou dez anos da inauguração da sua linha de montagem no Brasil, a BMW Motorrad também celebrou a marca de 60.000 unidades fabricadas no país, com a produção de uma F 850 GS.
Ainda em 2019, a marca apresentou a R 1250 GS, com motor de comando de válvulas variável, elevado conteúdo de eletrônica e dirigibilidade aperfeiçoada, capaz de estabelecer, outra vez, segundo a marca, novos paradigmas para o segmento das supertrails.
Entre as muitas histórias que envolvem a BMW GS, vale lembrar que vários modelos dessa série foram os escolhidos por Neil Peart, baterista da banda canadense de rock progressivo Rush, falecido em janeiro deste ano, em suas viagens pelo mundo. Além de considerado um gênio das baquetas, Peart também tinha talento para escritor, sendo de sua autoria as letras de vários sucessos do grupo canadense.
Ao final de algumas de suas andanças pelo mundo, Peart fazia questão de contar suas experiências em forma de livro. No mais conhecido deles, “Ghost Rider, a estrada da cura”, publicado em 2002, ele relata a viagem sem destino pela América do Norte, após as mortes da filha única filha, então com 19 anos, em um acidente de carro, e da mulher, vítima de câncer, em um intervalo de dez meses.
Em comemoração aos 40 anos de lançamento da GS, a BMW Motorrad preparou um e-book exclusivo e gratuito, em português, que conta a história de sucesso da série, no mundo e no Brasil, com foco no espírito aventureiro e pioneiro do modelo.
Fonte: BMW Motorrad do Brasil I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação