Recentemente, a companhia aérea Qantas, da Austrália, revelou que vai dar início a um programa de testes com o novo Boeing 787-9 Dreamliner, a fim de viabilizar o voo direto entre Sydney, na Austrália, e Londres, na Inglaterra, reduzindo o tempo de deslocamento para 19 horas. Atualmente, para vencer os 17 mil km que separam as duas metrópoles, é preciso encarar uma viagem de 22 horas, com escala em Dubai, no Oriente Médio, ou de até 25 horas, se a parada para reabastecimento do avião for em Singapura, no sudeste da Ásia.
No entanto, no que depender da empresa britânica Reaction Engines, dentro do prazo de dez anos, a mesma viagem poderá ser feita em apenas quatro horas, caso ela consiga decolar o seu projeto para uma nova classe de motor a jato hipersônico, o Sabre – iniciais de Synergetic Air-Breathing Rocket Engine.
A revelação foi feita na semana passada, durante a Conferência Espacial do Reino Unido 2019, quando a agência espacial local anunciou que está trabalhando junto à equivalente australiana para formalizar um acordo chamado “Primeira ponte espacial do mundo”.
“Quando criarmos o foguete Sabre para desenvolvimento, será possível estarmos na Austrália em, talvez, poucas quatro horas”, disse Graham Turnock, chefe da UK Space Agency. “´É o que essa tecnologia pode nos entregar, definitivamente. Estamos falando da década de 2030 para serviços operacionais, e o trabalho está muito avançado.”
Alimentado por uma mistura de hidrogênio e oxigênio, o Sabre “respira” o ar da atmosfera. Com isso, ele proporciona maior eficiência de combustível e menor peso do que os motores de foguete existentes, que precisam carregar o próprio suprimento de oxigênio.
Antes de entrarem no motor, propriamente, os gases são resfriados por um sistema patenteado pela Reaction Engines, chamado precooler. Segundo os responsáveis pelo desenvolvimento, os últimos testes provaram que, em menos de 1/20 de segundo, o componente pode resfriar os gases em até 1000º C, em comparação à temperatura ambiente.
“Este é um marco extremamente significativo e sem paralelo do desempenho de transferência de calor alcançado pela tecnologia precooler”, disse Mark Thomas, presidente-executivo da empresa. Segundo ele, a tecnologia poderia ser usada também na aviação híbrida elétrica, bem como em voos de alta velocidade, de fato.
Diferentemente dos motores a jato, capazes apenas de impulsionar um veículo a até Mach 3 – ou seja, três vezes a velocidade do som (340 m/s), totalizando 3.672 km/h -, o Sabre é desenhado para alcançar velocidades acima de Mach 5 (6.120 km/h), dentro da atmosfera terrestre, ou de voar no espaço como um foguete em Mach 25 (30.600 km/h).
Em abril deste ano, a Reaction Engines anunciou a conclusão com sucesso dos testes do motor precooler, realizados no campo de provas do Colorado Air and Space Port, nos Estados Unidos, simulando as condições de Mach 3.3, o que equivale a 4.039 km/h.
Isso é acima de 50% mais rápido do que a velocidade de cruzeiro do supersônico Concorde – que fazia a rota entre Nova Iorque e Paris em cerca de 3,5 horas –, e ultrapassa em mais de 500 km/h a velocidade máxima do Lockheed SR-71 Blackbird, o avião a jato mais veloz já produzido, que atinge 3.529 km/h.
Um dos desafios do voo hipersônico é assegurar que, viajando tão rapidamente, o motor possa resistir ao calor gerado por ele mesmo, capaz de causar o próprio derretimento. Para isso, o Sabre resfria o ar aspirado por meio de finos tubos de gás hélio super-refrigerado, utilizando o calor capturado para impulsionar o motor.
Assim, afirma a empresa responsável pelo projeto, o Sabre é o único propulsor com potencial para entregar, ao mesmo tempo, a eficiência de combustível dos motores a jato, e a potência e capacidade de atingir altas velocidades dos foguetes.
E da mesma forma que os motores a jato, o Sabre pode ser escalonado em tamanho para proporcionar diferentes níveis de impulsão para diversas aplicações, o que é crucial para o seu sucesso. A travessia entre Londres e Nova Iorque, por exemplo, poderia ser feita em apenas uma hora.
“O principal aspecto do Sabre é que ele é como um híbrido de motor de foguete e de jato aeronáutico”, resumiu Shaun Driscoll, diretor de programas da Reaction Engines, durante a conferência espacial. “Então, você pode ter um sistema de propulsão leve, realmente eficiente e, basicamente, criar um avião espacial.”
De acordo com a matéria publicada no site da CNN, o interesse pela tecnologia é tanto que a Reaction Engines recebeu mais de cem milhões de libras esterlinas (acima de meio bilhão de reais) em fundos, nos últimos quatro anos, bem como aportes de indústrias como BAE Systems, Rolls-Royce e Boeing HorizonX.
Parte desses investimentos está sendo empregado para finalizar a construção de uma área de testes em Buckinghamshire, na Inglaterra, onde será feita a primeira demonstração em solo do motor Sabre.
Veja, em detalhes, como funciona o motor Sabre:
Fontes: Reaction Engines, CNN, The Sun e Robb Repport I Imagens: Divulgação