Em 2018, os visitantes da Aero Friendrichshafen – maior feira de aviação da Alemanha, realizada anualmente em abril – foram apresentados ao Zefhir, um projeto inovador de helicóptero compacto, criado e desenvolvido pela Curti Aerospace Division, fabricante italiana de componentes complexos para esse tipo de aeronave, com seis décadas de experiência.
Concebido para ser um veículo leve, eficiente e durável, o Zefhir leva duas pessoas e tem a fuselagem, cauda e pás dos rotores inteiramente feitas de fibra de carbono. Além trazer como principais vantagens a significativa redução do peso e a maior resistência em relação às ligas de alumínio normalmente utilizadas, o material compósito permite o perfil aerodinâmico aprimorado da fuselagem, por conta de sua produção por meio de moldagem em autoclave.
O resultado é um helicóptero com visual extremamente limpo e arrojado, e com peso máximo de decolagem de apenas 700 kg, o que lhe confere, segundo a fabricante, a melhor relação de peso-potência da categoria, trazendo maior potencial de sustentação e de manobrabilidade. A cuidadosa distribuição de peso também proporciona ótima altitude de voo com qualquer condição de carga.
Ao mesmo tempo, o Zefhir estreia no segmento de helicópteros compactos o motor a turbina – turboshaft – no lugar do tradicional a pistão, que teve sua instalação otimizada com a utilização de sofisticados ensaios de Dinâmica dos Fluidos computadorizados. A unidade tem potência máxima de 180 kW, ou 241 sht (cavalos de força no eixo, na unidade em inglês), e oferece desempenho consistente em elevadas altitudes e temperaturas, resultando em maior facilidade de controle e de comando, justifica a Curti.
Combinando o peso reduzido, o avançado design aerodinâmico e o motor a turbina, o Zefhir oferece um desempenho inigualável para um helicóptero desse porte, com velocidade de cruzeiro de 87 nós (161 Km/h) e máxima de 100 nós (185 Km/h). Os perfis em aerofólio das pás dos rotores principal e de cauda asseguram baixa emissão de ruídos.
Fora isso, o motor turboshaft vem com um controle digital eletrônico Fadec (sigla, em inglês, para Controle Digital de Motor Totalmente Autônomo), que permite ao piloto concentrar-se nos controles de voo, sem ter de se preocupar com o motor durante operações delicadas.
O cockpit especialmente desenhado para o modelo também oferece a possibilidade de selecionar diretamente do manche “cyclic stick” as páginas de informações exibidas no painel.
Mas o fato que mais chama a atenção no Zefhir é, sem dúvida, o seu exclusivo sistema de paraquedas balístico. Instalado sobre o rotor principal, ele foi desenhado para funcionar como um dispositivo de reserva (backup) em condições críticas onde a autorrotação (manobra para aterrissagem de emergência) não pode ser executada. Entre essas situações incluem a falha no controle de voo ou perda de manobrabilidade; voo sobre áreas onde a aterrissagem de emergência não pode ser executada com segurança; ou, ainda, condições de voo que impeçam a restauração da velocidade de rotação do rotor.
Com isso, o Zefhir ostenta os mais altos padrões de segurança em sua categoria, atendendo os requisitos CS-27 da Agência Europeia de Segurança em Aviação, mesmo como um helicóptero para dois ocupantes.
Pela primeira vez na história da aviação, o equipamento foi testado com sucesso no aeroporto Oristano-Fenosu, na ilha da Sardenha, ao sul da Itália, em junho de 2018. Sem tripulantes, por meio de controle remoto, o helicóptero alcançou a velocidade de voo de 30 nós (55 km/h) a 300 m de altitude, quando o motor foi desligado para simular uma falha. Iniciada a queda, o paraquedas foi acionado e, em cerca de 6 segundos, o velame foi totalmente expandido, determinando a altitude mínima de abertura de apenas 150 metros (450 pés).
A partir daí, a velocidade de queda do helicóptero se estabilizou em menos de 7,5m/s (27 km/h), resultando no impacto contra o solo com pico de desaceleração dentro das exigências para a salvaguarda da vida humana, como as determinadas para os crash testes das indústrias aeronáutica e automotiva. A Curti Aerospace destaca que o sistema tem como função salvar as vidas a bordo, não necessariamente a fuselagem.
Também de acordo com a fabricante, o paraquedas foi desenhado para ser aberto mesmo em velocidade máxima à frente. Graças a um inovador freio de rotor, a rápida parada das hélices após a interrupção do motor determina a imediata mudança do voo à frente para a queda vertical, evitando o efeito down-wash (fluxo de ar descendente) das pás principais, o que poderia retardar a abertura do velame e anular a função do equipamento de emergência.
Por todas essas inovações, o Zefhir foi um dos projetos selecionados para receber o financiamento concedido pelo Programa Horizonte 2020, dedicado à pesquisa e inovação, mantido pela Comissão Europeia.
A produção do modelo ficará a cargo do consórcio liderado pela Curti Aerospace, com a participação de outras fabricantes europeias do setor aeronáutico, incluindo a PBS Velká Bíteš, da República Tcheca, e a Junkers Profly GmbH, da Alemanha.
No segmento de aviões, o primeiro e único modelo equipado até o momento com sistema de paraquedas é o Cirrus SF50, também chamado de Vision Jet, lançado no mercado em 2016 pela fabricante norteamericana Cirrus Aircraft, e que já está em sua segunda geração.
A jatinho monomotor utiliza o Caps (sigla em inglês para Sistema de Paraquedas para Fuselagem Cirrus), desenvolvido especialmente para o modelo em parceria com a BRS, empresa responsável pela patente do Sistema de Recuperação Balístico no início da década de 1980, fundada por Boris Popov, um alemão radicado nos Estados Unidos que se dedicou à criação do equipamento após sobreviver à queda de 120 m de altura a bordo de um ultraleve.
Veja como funciona o paraquedas do Zafhir no vídeo gravado durante o teste: