Um Fórmula 1 futurista, com rodas cobertas, dois lugares e ainda mais potente. Essa, talvez, seja a maneira mais fiel de se apresentar o hipercarro Red Bull RB17, um bólido híbrido com 1.200 cavalos de força, revelado ao público na edição deste ano do Festival de Velocidade de Goodwood – ou FOS, na sigla em inglês -, no Reino Unido.
O modelo é a mais nova criação da mente brilhante de Adrian Newey, o diretor técnico da Red Bull Racing e da Red Bull Advanced Technologies. De saída dos cargos ao final da temporada- por vontade própria, segundo ele -, o engenheiro britânico de 65 anos dedicou ao seu derradeiro projeto na corporação austríaca toda a experiência vencedora que acumulou em mais de quatro décadas na F1 (leia mais ao final da matéria).
Afora os monopostos de corrida, o Bull R17 é o primeiro modelo totalmente projetado, desenvolvido e fabricado pelo Red Bull Racing Group. Embora possa levar duas pessoas, o modelo não é homologado para transitar pelas ruas e estrada, pois seu conceito é voltado exclusivamente para as pistas. O lançamento do hipercarro faz parte das comemorações pelos 20 anos da equipe Red Bull Racing na Fórmula 1, que, até o momento, acumula 120 vitórias, seis títulos de Construtores e outros sete de Pilotos.
O nome RB17 vem de uma lacuna na sequência de desenvolvimento dos carros da equipe multicampeã, deixada pela epidemia de Covid em 2020. Assim, o modelo de 2021 foi chamado RB16B (por ser uma versão apenas melhorada do modelo da temporada anterior, auge das restrições sociais), pulando para RB18 na versão de 2022, novamente construído a partir de um projeto inédito.
Apenas 50 unidades do RB17 serão construídas na fábrica instalada no Red Bull Technology Campus, localizado em Milton Keynes, na Inglaterra. Segundo a Red Bull, a produção está programada para começar em 2025.
Presente no lançamento em Goodwood, Newey declarou: “Eu estava pensando na ideia de assumir o desafio de projetar nosso próprio Hypercar, do conceito à entrega, por muitos anos, e tem sido um projeto e uma jornada magníficos.”
“O Red Bull RB17 abrange tudo o que defendemos: potência, velocidade e beleza inegáveis. Ele é muito adaptável em suas habilidades, e nos certificamos de projetá-lo com dois lugares para que a emoção de dirigir em velocidades de F1 possa ser compartilhada.”
SOPRO DE GENIALIDADE
O RB17 será inteiramente personalizável, deixando os clientes livres decidir desde a cor da pintura externa até os materiais internos, além de diversos detalhes menores. Quanto à ficha técnica e informações complementares, no entanto, a fabricante prometeu divulgá-las no “devido tempo”.
O hipercarro da Red Bull apresenta chassi monocoque de fibra de carbono projetado em torno de um habitáculo de dois lugares. Sua estrutura leve contribui diretamente para o peso total de apenas 900 kg. A cabine é coberta por uma bolha fluidamente esculpida, com aparência escurecida e translúcida.
Especialista em aerodinâmica, Newey se esmerou em criar para o RB17 o pacote de efeito solo mais avançado possível. Entre as artimanhas trazidas da F1, o projetista incluiu a solução de difusor soprado, que tem a função de aumentar a carga de downforce, ou seja, a pressão de cima para baixo exercida pelo ar.
Basicamente, o recurso consiste em colocar as saídas de escapamento voltadas para o lado de cima da carroceria, logo à frente da asa traseira. Dessa forma, os gases quentes saídos sob alta pressão do motor aceleram o fluxo de ar que sobra através das lâminas do aerofólio, potencializando o efeito deste. Na prática, isso faz com que o carro “grude” cada vez mais no chão, sobretudo em elevadas rotações do V-10.
Outra tecnologia que contribui para a eficiência aerodinâmica do RB17 é a suspensão ativa multifuncional – porém esta banida da F1 a partir de 1994.
Ela atua para que carroceria se mantenha numa distância mínima e estabilizada em relação ao solo – seja em acelerações, frenagens, contorno de curvas ou irregularidades na pista. Dessa forma, o fluxo de ar que passa sob o assoalho e pelo extrator traseiro pode maximizar o efeito de sucção contra o solo, aumentando a aderência do carro no asfalto.
Na apresentação em Goodwood, Newey afirmou que a velocidade final do RB17 pode passar dos 350 km/h. E, mais impressionante ainda, já aos 240 km/h o bólido é capaz de gerar 1.700 kg de downforce.
Ou seja, hipoteticamente, nessa velocidade ele poderia não apenas se deslocar de cabeça para baixo, grudado ao teto de um túnel, como também suportar nessa posição quase o dobro de seu peso total.
Na opinião do projetista – a qual, por motivos óbvios, deve ser respeitada como poucas -, esta capacidade aerodinâmica extrema é uma das principais razões pelas quais o hipercarro da Red Bull poderia medir forças com os monopostos de F1 – ainda que estes tenham peso inferior, em torno dos 800 kg.
“Em última análise, de acordo com todas as nossas simulações, (o RB17) estaria na pole em Silverstone no último fim de semana”, afirmou ele, referindo-se ao Grande Prêmio da Grã-Bretanha de 2024.
FÚRIA TAURINA
Instalado no centro do chassi, o sistema de propulsão híbrido do Red Bull RB17 gera a potência combinada de 1.200 cv. O elemento central é o motor Cosworth de dez cilindros em V, com 4,5 litros de cilindrada, totalmente aspirado, capaz de gerar 1.000 cavalos de potência. Ele é combinado a um motor elétrico, que adiciona os outros 200 cv. A rotação máxima é de 15.000 giros por minuto, prometendo uma experiência de pilotagem inigualável.
Para ajudar na redução do peso, mas sem comprometer a resistência, a caixa de câmbio tem as paredes também feitas de fibra de carbono e recebe engrenagens fornecidas pela xTrac. E, diferentemente da maioria dos hipercarros, que contam com tração nas quatro rodas – incluindo os participantes da categoria principal do Mundial de Endurance (WEC) – o RB17 direciona a potência do motor totalmente para o eixo traseiro, como um legítimo F1.
De forma a assegurar que a precisão de manufatura do RB17 esteja ao nível dos monopostos conduzidos por Max Verstappen e Sérgio Perez, a Red Bull limitou a produção do hipercarro ao total de 50 unidades, com o ritmo de entrega de 15 carros por ano.
O preço de cada hipercarro RB17 está na ordem cinco milhões de libras esterlinas, algo em torno de R$ 35,2 milhões. Além do carro e da personalização ao gosto do cliente, esse valor inclui suporte da fábrica para manutenção e serviços personalizados, de acordo com o perfil de uso do carro.
Fora isso, o comprador terá direito ao programa treinamento em simuladores e a experiências na pista, como track days exclusivos para o RB17 em circuitos renomados ao redor do mundo.
A apresentação do RB17 em Goodwood foi complementada por uma exposição dos carros de corrida históricos da Red Bull e pela presença de figuras importantes da equipe, como o diretor técnico Christian Horner e o ex-piloto David Coulthard.
INTELIGÊNCIA ANALÓGICA
Adrian Newey é amplamente reconhecido como um dos mais brilhantes e bem-sucedidos engenheiros e projetistas de carros de Fórmula 1 da história. Após se formar em Engenharia Aeronáutica na Universidade de Southampton, o britânico iniciou sua carreira na Fórmula 1 como estagiário na equipe Fittipaldi Automotive, em 1980.
Ao longo das últimas quatro décadas, Newey se notabilizou por sua habilidade em combinar teoria aerodinâmica avançada com aplicações práticas, resultando em carros inovadores, eficientes e, sobretudo, rápidos. Entre seus projetos mais notáveis na F1, se destacam:
- Williams FW14B (1992): carro revolucionário com suspensão ativa, que levou Nigel Mansell ao título de pilotos e a Williams ao de Construtores.
- Williams FW15C (1993): continuou o sucesso com avanços tecnológicos, ajudando Alain Prost a vencer o Campeonato.
- McLaren MP4/13 (1998): conduziu Mika Häkkinen ao título de Pilotos e a McLaren ao título de Construtores.
- McLaren MP4/14 (1999): seguiu com outro título de pilotos para Häkkinen.
- Red Bull Racing RB6 (2010): iniciou a era dominante da Red Bull com Sebastian Vettel, vencendo os campeonatos de Pilotos e de Construtores.
- Red Bull Racing RB7 (2011): Conhecido pela sua eficiência aerodinâmica, levou Vettel a outro título.
Mas vale lembrar que os quatro títulos de Vettel e todos do atual tricampeão Verstappen foram conquistados com carros concebidos por Newey.
Apesar de toda tecnologia eletrônica que envolve a F1 atual, o diretor técnico da Red Bull Racing e da Red Bull Advanced Technologies ainda utiliza a boa e velha prancheta, sobre a qual, com seus vários metros quadrados, desenvolve as ideias anotadas num pequeno caderno que sempre leva a tiracolo.
Esse método peculiar de trabalho praticado por Newey remete ao pensamento de outro gênio do desenho, que 500 anos atrás já dizia: “A simplicidade é o mais alto grau de sofisticação”. Seu nome era Leonardo da Vinci. •UM
UNIVERSO MOTOR I Redação
Edição: Fábio Ometto I Fontes: Red Bull Content Pool I Imagens: Divulgação
Texto produzido com auxílio de Inteligência Artificial
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