O português António Felix da Costa roubou a cena neste domingo na corrida final da segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Stock Car – agora, rebatizado como Stock Car Pro Series – em Interlagos, São Paulo.
O atual campeão mundial de Fórmula E (voltada aos monopostos 100% elétricos), e quarto colocado na temporada deste ano, foi chamado às pressas para substituir o também detentor do título da Stock e tricampeão Ricardo Maurício, da equipe Eurofarma RC, que testou positivo para a Covid-19 na semana anterior à prova. E o “gajo” acelerou muito além do que todos poderiam esperar.
Nascido em Cascais, no litoral de Portugal, o piloto de 29 anos assumiu o cockpit do Chevrolet Cruze nº 90 praticamente uma semana após vencer o inédito e-Prix de Mônaco, com uma ultrapassagem na última volta. Apesar de já ter participado de corridas em dupla na Stock – antes da mudança do regulamento que trouxe de volta o chassi monobloco, é preciso ressaltar que da Costa nunca havia pilotado no circuito paulistano.
No entanto, após uma exibição de pura competência ao volante, o piloto vindo do lado de lá do Atlântico saiu de sua primeira visita ao templo brasileiro da velocidade ungido como o único estrangeiro a vencer individualmente na divisão de topo do automobilismo nacional.
Em 2015, o argentino Nestor Girolami, em dupla com o próprio Ricardo Maurício, também pela Eurofarma RC, venceu a corrida de duplas que abriu a temporada daquele ano, em Goiânia, tornando-se o primeiro estrangeiro a vencer na Stock Car.
Há de se destacar, contudo, que da Costa teve à disposição a estrutura de ponta, literalmente, e a precisão estratégica da melhor equipe do grid (há anos), comandada pelo engenheiro paranaense Rosinei Campos, o “Meinha” – o único indivíduo no planeta a ter participado de todas as etapas da Stock Car, rigorosamente, desde a criação da categoria, em 1979, com os Chevrolet Opala.
A escuderia sediada em Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, também é a mais vitoriosa da Stock Car, levando seus pilotos ao título em 13 das 41 temporadas disputadas até hoje, incluindo os quatro últimos, esses simultaneamente aos de equipes.
No sábado, o paranaense Gabriel Casagrande conquistou a pole position por apenas cinco milésimos de segundo (0s005) à frente do aniversariante do dia, Allam Khodair, que completou 40 anos, imediatamente seguido por Diego Nunes, seu companheiro na equipe Blau Motorsport-Chevrolet.
O tricampeão Daniel Serra, então líder do campeonato, conseguiu o quarto lugar na tomada de tempos, mas foi desclassificado por ter perdido o lastro de 3 kg obrigatórios pelo regulamento, o que deixou seu carro meio quilo abaixo do peso mínimo exigido, jogando-o para a última posição do grid. Com isso, Thiago Camilo, da Ipiranga-Toyota, assumiu seu lugar, com Rubens Barrichello, da Full Time-Toyota, em quinto.
Com novo formato, cada corrida em Interlagos contou com 30 minutos mais uma volta de duração. Na primeira prova, Gabriel Casagrande fez valer o lugar de honra no grid e disparou até a freada do Esse do Senna ainda na liderança. No entanto, já na Reta Oposta, a dupla dos carros azuis, Khodair e Nunes, emparelhou com o ponteiro em uma situação bastante crítica, ocupando toda a largura da pista.
Em sua defesa, Casagrande acabou mudando a trajetória e deixando espaço insuficiente para Nunes, que pisou na grama com as rodas do lado esquerdo, perdendo o ponto de freada e a tangência para a Curva do Lago, o que lhe custou várias posições e a chance de brigar pela liderança na primeira parte da corrida.
Logo atrás, em uma sequência muito semelhante, Barrichello também colocando as rodas esquerdas sobre a vegetação que margeia a pista e, ao passar reto no Lago, acertou em cheio a lateral do carro de Marcos Gomes, da Cavaleiro Sports-Chevrolet. A colisão danificou seriamente a suspensão traseira do Cruze nº 80 de Gomes, campeão da Stock em 2015, e a dianteira do Corolla de Rubinho nº 111, vencedor do título no ano anterior.
Ambos conseguiram levar os carros para os boxes, na tentativa de serem recuperados para a segunda prova, mas em nenhum dos casos foi possível. Ao ser divulgado o resultado da corrida 1, o nome de Barrichello apareceu como excluído da etapa – algo inédito em seus 40 anos de carreira completados em 2021, comemoração que ele trouxe destacada em seu capacete nesta prova.
Nas voltas finais, Casagrande foi informado de que receberia a penalização de 5 segundos adicionados ao seu tempo de prova, devido ao toque com Diego Nunes. A partir daí, a corrida passou a ser contra o cronômetro, a fim de deixar Khodair, o segundo colocado, bem longe de seus retrovisores. No momento da punição, a diferença entre eles era de exatos 5s040, chegou a cair para 4s e a subir para 6s, mas, no final, Casagrande foi capaz de recuperar o terreno e venceu a prova por apenas 0s069 além do meio segundo que precisava. Novamente, repetindo o resultado do treino classificatório, o mesmo intervalo de tempo decidia a favor de Casagrande sobre Khodair. Nunes foi o terceiro colocado.
Enquanto isso, depois de largar da 17ª posição, Félix da Costa terminava em nono, garantindo a segunda posição para a segunda parte da corrida, que tem a ordem de largada formada a partir da inversão dos dez primeiros da prova inicial.
Sem intervalo, o grid foi realinhado com os carros em movimento, tendo a primeira fila formada por Galid Osman na pole, ao lado de da Costa. Galid manteve a dianteira na largada, com Félix perdendo a posição para o piloto mais jovem do grid, Pedro Cardoso, três voltas mais adiante.
Uma volta depois o português também seria superado por Denis Navarro, em uma manobra sensacional, superou numa só tacada o português e Cardoso, na freada para mergulhar no Esse do Senna.
O início das paradas obrigatórias nos boxes para troca de pneu e reabastecimento, a partir da na oitava volta, mudou tudo, uma vez que Galid perdeu muito tempo em seu pit stop e saiu da briga pela vitória. Contando com os bons serviços da equipe RC, Félix conseguiu retornar na dianteira e se manteve na liderança até a bandeirada, beneficiando-se do duelo pela segunda posição, nas voltas finais, entre seu companheiro de equipe, Daniel Serra, que havia largado em 24º e fez uma corrida espetacular, e Guilherme Salas, da KTF Sports-Chevrolet.
A uma volta do final, Gaetano di Mauro, que vinha em terceiro, acompanhando a disputa entre Serra e Salas, acionou botão de ultrapassagem na subida para a reta dos boxes e, ao perceber um “brecha” deixada pelos concorrentes, mergulhou para tentar uma ultrapassagem passando entre os dois carros – o que, se acontecesse, seria a manobra do ano. Mas… não deu certo. Veja o lance, na cobertura da imprensa russa:
Assim como no desenho animado “A Caverna do Dragão”, o portal se fechou à sua frente e ele se chocou com ambos, levantando a frente do seu carro, o que provocou uma perigosa semi-decolagem, por causa do fluxo de ar que atingiu a parte de baixo do assoalho.
O movimento jogou para o alto e, depois, contra o muro o Cruze pilotado por di Mauro, que acabara de conseguir o patrocínio para o resto da temporada. Levado ao hospital de helicóptero, felizmente não foi constatada qualquer lesão no jovem piloto.
Apesar de ser o vencedor legítimo da segunda prova, Félix da Costa não terá seus pontos computados no Campeonato, já que uma cláusula do regulamento obriga todos os competidores a serem filiados à Confederação Sul-Americana de Automobilismo. Como foi convidado de última hora, o piloto português não teve tempo de cumprir essa formalidade. Mesmo assim, com uma atuação de gala, o campeão mundial de Fórmula E entrou para a história do automobilismo brasileiro.
Com o resultado, Daniel Serra continua na liderança, mas agora com Bruno Baptista na segunda posição, depois de obter o terceiro e o décimo lugares em Interlagos. O vencedor da primeira prova, Casagrande, agora está na sexta posição da tabela.
A próxima etapa da Stock Car Pro Series está programada para o dia 19 de junho, no circuito Velocittá, em Mogi Guaçu, no interior de São Paulo.
2ª ETAPA – 16.05.2021 I Autódromo José Carlos Pace – Interlagos (SP) – Extensão: 4.309 m – Percurso: duas corridas de 30 min + 1 volta, em sequência
CORRIDA 1
1º – Gabriel Casagrande (A. Mattheis-Vogel/Chevrolet
Cruze) – 19 voltas
2º – Allam Khodair (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 0s569
3º – Bruno Baptista (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 9s042
4º – Cesar Ramos (Ipiranga Racing/Toyota Corolla) – a 10s348
5º – Átila Abreu (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 11s355
6º – Diego Nunes (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 12s998
7º – Denis Navarro (Cavaleiro Sports/Chevrolet Cruze) – a 14s224
8º – Pedro Cardoso (KTF Racing/Chevrolet Cruze) – a 16s848
9º – António Félix da Costa (Eurofarma RC/Chevrolet Cruze) – a 17s160
10º – Galid Osman (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 17s197
11º – Thiago Camilo (Ipiranga Racing/Toyota Corolla) – a 17s366
12º – Rafael Suzuki (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 23s874
13º – Christian Hahn (Blau Motorsport II/Chevrolet Cruze) – a 24s733
14º – Guga Lima (A. Mattheis-Vogel/Chevrolet Cruze) – a 31s761
15º – Felipe Massa (Lubrax Podium/Chevrolet Cruze) – a 34s609
16º – Ricardo Zonta (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 38s183
17º – Julio Campos (Lubrax Podium/Chevrolet Cruze) – a 38s731
18º – Sergio Jimenez (MX Piquet Sports/Toyota Corolla) – a 42s183
19º – Matías Rossi (Full Time Sports/Toyota Corolla) – a 43s187
20º – Felipe Lapenna (Hot Car/Chevrolet Cruze) – a 43s243
21º – Tony Kanaan (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 47s373
22º – Beto Monteiro (Crown Racing/Chevrolet Cruze) – a 1min11s346
23º – Gustavo Frigotto (RKL/Chevrolet Cruze) – a 1min26s610
24º – Daniel Serra (Eurofarma RC/Chevrolet Cruze) a 1min30s474
25º – Tuca Antoniazi (Hot Car/Chevrolet Cruze) – a 1min45s055
26º – Guilherme Salas (KTF Sports/Chevrolet Cruze) – a 1 volta
27º – Gaetano di Mauro (KTF Racing/Chevrolet Cruze) – a 1 volta
28º – Nelson Piquet Jr. (MX Piquet Sports/Toyota Corolla) – a 1 volta
29º – Lucas Foresti (KTF Sports/Chevrolet Cruze) – a 1 volta
Não completaram
Cacá Bueno (Crown Racing/Chevrolet Cruze)
Marcos Gomes (Cavaleiro Sports/Chevrolet Cruze)
Excluído* – Rubens Barrichello (Full Time Sports/Toyota Corolla)
CORRIDA 2
1º – António Félix da Costa (Eurofarma RC/Chevrolet
Cruze) – 19 voltas
2º – Daniel Serra (Eurofarma RC/Chevrolet Cruze) – a 2s942
3º – Guilherme Salas (KTF Sports/Chevrolet Cruze) – a 4s815
4º – Ricardo Zonta (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 1min54s983
5º – Cacá Bueno (Crown Racing/Chevrolet Cruze) – a 1min57s795
6º – Átila Abreu (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 1min59s256
7º – Felipe Massa (Lubrax Podium/Chevrolet Cruze) – a 2min00s574
8º – Denis Navarro (Cavaleiro Sports/Chevrolet Cruze) – a 2min01s713
9º – Galid Osman (Shell V-Power/Chevrolet Cruze) – a 2min03s850
10º – Bruno Baptista (RCM Motorsport/Toyota Corolla) – a 2min04s948
11º – Cesar Ramos (Ipiranga Racing/Toyota Corolla) – a 2min06s572
12º – Tony Kanaan (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 2min07s931
13º – Nelson Piquet Jr. (MX Piquet Sports/Toyota Corolla) – a 2min10s734
14º – Diego Nunes (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 2min12s376
15º – Rafael Suzuki (Full Time Bassani/Toyota Corolla) – a 2min13s270
16º – Thiago Camilo (Ipiranga Racing/Toyota Corolla) – a 2min17s282
17º – Julio Campos (Lubrax Podium/Chevrolet Cruze) – a 2min18s864
18º – Allam Khodair (Blau Motorsport/Chevrolet Cruze) – a 2min20s947
19º – Beto Monteiro (Crown Racing/Chevrolet Cruze) – a 2min21s990
20º – Tuca Antoniazi (Hot Car/Chevrolet Cruze) – a 2min23s330
21º – Matías Rossi (Full Time Sports/Toyota Corolla) – a 2min25s470
22º – Gaetano di Mauro (KTF Racing/Chevrolet Cruze) – a 2 voltas
Não completaram
Gabriel Casagrande (A. Mattheis-Vogel/Chevrolet Cruze)
Gustavo Frigotto (RKL/Chevrolet Cruze)
Pedro Cardoso (KTF Racing/Chevrolet Cruze)
Lucas Foresti (KTF Sports/Chevrolet Cruze)
Felipe Lapenna (Hot Car/Chevrolet Cruze)
Christian Hahn (Blau Motorsport II/Chevrolet Cruze)
Sergio Jimenez (MX Piquet Sports/Toyota Corolla)
Excluído – Guga Lima (A. Mattheis-Vogel/Chevrolet Cruze)
1º – Daniel Serra – 68 pontos
2º – Bruno Baptista – 65
3º – Átila Abreu – 63
4º – Cesar Ramos – 62
5º – Denis Navarro – 58
6º – Gabriel Casagrande – 56
7º – Thiago Camilo – 47
8º – Cacá Bueno – 46
9º – Galid Osman – 45
10º – Diego Nunes – 40
11º – Guilherme Salas – 39
12º – Allam Khodair – 37
13º – Gaetano di Mauro – 34
14º – Ricardo Zonta – 32
15º – Rafael Suzuki – 31
16º – Ricardo Maurício – 29
17º – Pedro Cardoso – 27
18º – Felipe Massa – 22
19º – Julio Campos – 20
20º – Lucas Foresti – 17
21º – Christian Hahn – 13
22º – Tony Kanaan – 11
23º – Nelsinho Piquet – 9
24º – Guga Lima – 8
25º – Sergio Jimenez – 6
26º – Matías Rossi – 4
27º – Beto Monteiro – 3
28º – Rubens Barrichello – 3
29º – Gustavo Frigotto – 2
30º – Felipe Lapenna – 2
31º – Tuca Antoniazi – 1
32º – Marcos Gomes – 1
33º – Max Wilson – 0
Fontes: Stock Car Pro Series e Gazeta Esportiva I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e redes sociais