Mesmo com número de carros inscritos bastante reduzido e portões fechados para o público – consequências diretas da pandemia da Covid-19 –, foi disputada neste domingo (24) a edição de 2021 da Mil Milhas Brasileiras, uma das mais emblemáticas corridas de endurance do automobilismo nacional, realizada tradicionalmente no Autódromo de Interlagos, em São Paulo, como parte da programação de aniversário da capital paulista, comemorado no dia 25 de janeiro.
Batizada de Mil Milhas Chevrolet Absoluta, a prova deste ano ficará marcada não apenas pelas condições climáticas instáveis (vale lembrar, uma das características do circuito paulistano), que variaram de calor moderado a chuva intensa, mas, sobretudo, por conta das mudanças adotadas em função dos protocolos sanitários exigidos pelas autoridades estaduais e municipais. Além das arquibancadas vazias, a prova teve de alterar o horário de largada da meia-noite para as 8h50 de domingo, bem como estabelecer a duração máxima em dez horas, mais uma volta.
Dessa forma, após 10h06min33s ininterruptas de corrida, entre sol e pancadas esparsas, o protótipo nacional MCR 2.1 Duratec, conduzido pelo quinteto paranaense José Vilela/Leandro Totti/Eduardo Pimenta Souza/Guga Ghizo/Leonardo Yoshi, inscrito na categoria P3 (aberta a modelos específicos para competição, com motor aspirado de até 2.400 cm³), completou o tempo limite da prova com 291 voltas, com a vantagem de 14 para o segundo colocado, conforme resultado oficial divulgado pela Federação de Automobilismo de São Paulo (Fasp).
“Esse chassi estava parado há algum tempo e optamos por fazer uma reconstrução detalhada para disputar a Mil Milhas. No entanto, carro de corrida sempre tem algumas surpresas e, entre aquelas que enfrentamos hoje, a principal foi com o botão de partida e os freios, razão pela qual alteramos a ordem de ‘stints’ (turnos ao volante) e fui escalado para pilotar na chuva”, revelou Leandro Totti, líder da equipe. “Além disso, perdemos um bom tempo no início da prova, quando rodei e tivemos que aguardar a ajuda do resgate para podermos voltar aos boxes”, concluiu o londrinense, que também venceu a 500 Km de Interlagos do ano passado e levantou três títulos da Fórmula Truck, disputada pelos caminhões.
Apesar de alinhar apenas 23 carros, o grid da Mil Milhas 2021 foi extremamente eclético, como sempre, reunindo desde clássicos como os Volkswagen Brasília, Passat e Voyage (todos na categoria Turismo Nacional 1A, até 2.000 cm³) , ou os Chevrolet Omega (TN1B, entre 2.001 e 4.500 cm³) e Corsa (TN1A), passando por máquinas importadas como o BMW M34.0 V-8 (FIA GT4), até chegar ao topo da cadeia alimentar das provas de resistência, onde reinam os protótipos – representados, no caso, pelos modelos MC Tubarão, MRX Chevrolet e Roco/Ralt Hayabusa, entre outras máquinas construídas especificamente para competição.
Sem surpresas, as primeiras posições para a largada foram, então, dominadas por eles, os protótipos. Justificando a referência ao predador dos mares, o MC Tubarão Duratec – capaz de desferir a potência de até 400 cv – inscrito na categoria P2 (destinada a motores até 2.100 cm³, com turbo e câmbio manual ou automático) -, abocanhou a pole-position, no sábado, com o tempo de 1min37s702.
Exibindo o visual psicodélico nas cores verde e azul – nitidamente inspirado no Porsche 917 LH “hippie”, vice-campeão da 24 Horas de Le Mans em 1970 -, o carro nº 32 foi comandado pelo quarteto, também do Paraná, Mauro Kern, Márcio Basso, Paulo Sousa e Wellington Cirino, esse último já conhecido pelos quatro títulos conquistados na categoria dos caminhões, também.
Ao lado do Tubarão, a primeira fila foi completada pelo protótipo MRX Chevrolet 2.3 16V, da classe P3, do quarteto Mario Marcondes/Paulo Totaro/Márcio Mauro/Fábio Carbone, que fechou a volta em 1min38s424.
A terceira posição no grid ficou para o Chevrolet Cobalt Stock Car 6.5 V-8 (nº 25), incluído na categoria (TN1B), do trio liderado pelo experiente Ney Faustini, junto com seu filho Ney de Sá Faustini e com Luiz Fernando Batista, o “Batistinha”, com a marca de 1min39s961.
Para Faustini “pai”, a estratégia para o desafio de dez horas de duração seria a regularidade. “Em uma corrida deste tipo, nem sempre o vencedor vai liderar a prova na primeira parte. Vou largar tendo em mente o exemplo da vitória dos irmãos Giaffone em 1981. Nessa corrida ele (Affonso), o Zeca e o Chico Serra andaram praticamente a corrida inteira marcando o mesmo tempo por volta”, planejava o piloto, com a vivência de mais de três décadas nas pistas.
Outro destaque do grid foi o VW Voyage nº 3, que pela primeira vez na história da Mil Milhas reuniu uma equipe só de pilotas, formada por Luciane Klai, Fernanda Aniceto e Renata Camargo. Classificadas na categoria Turismo Nacional 1 (com motor aspirado até 1.6 e pneus radiais), elas conseguiram a 21ª colocação no grid, com o tempo de 2min12s213.
Após a largada em movimento, as intervenções do carro de segurança durante as primeiras duas horas de corrida, combinada à chuva forte que caiu na segunda metade da competição, levaram a direção de prova a autorizar a bandeirada quadriculada após as dez horas de disputa, com 82 voltas a menos do que as 373 previstas, consagrando a liderança do protótipo número 73 de Vilela/Totti/Souza/Ghizo/Yoshi.
E, novamente confirmando as expectativas, outros dois protótipos fecharam o pódio da Mil Milhas 2021. A segunda posição ficou para o R1 VW AP 2.0 (P4, para motores aspirados até 2.000 cm³), pilotado por Leandro Guerra/Rodrigo di Conti/Marcelo Camacho.
O terceiro lugar foi conquistado pelo singular Roco/Ralt Hayabusa 1.4 (construído a partir do chassi Ralt RT34 de Fórmula 3), inscrito na classe P3, e que teve o cockpit alternado por um quarteto também pra lá de experiente, formado por Robbi Perez, José Cordova, Juliano Moro e Maurizio Sala; catedrático em corridas de longa duração, “Salinha” traz no currículo sete participações na 24 Horas de Le Mans, só para citar a mais famosa, obtendo como melhor resultado a quarta colocação, em 1.995, ao volante do McLaren F1 GTR.
O trio Henry Visconde/Tiel Andrade/Lucas Foresti deu ao BMW M3 da equipe Eurobike uma despedida digna das pistas. Único inscrito na categoria GT4, o sedã esportivo alemão – equipado com motor V-8 de 4,4 litros, com 500 cv de potência -, percorreu 229 voltas, obtendo o 11º lugar na classificação geral, apesar de duas paradas para reparos, que custaram muito tempo e impediram de buscar um lugar no pódio, como era a previsão de Visconde.
“Foi uma pena esses problemas terem acontecido, porque nossa expectativa era terminar entre os primeiros colocados na classificação geral”, afirmou o piloto, atual vice-campeão do Endurance Brasil, o campeonato nacional da categoria.
A melhor volta da prova ficou com Cirino, ao volante do MC Tubarão Duratec 2.0 T, que cravou 1min39s689, na 88ª passagem.
Confira os dez primeiros colocados na Mil Milhas Absoluta Racing 2021:
Posição | Pilotos | Carro | Categoria | Número | Resultado |
1º | José Vilela/Leandro Totti/Eduardo Pimenta Souza/Guga Ghizo/Leonardo Yoshi | Protótipo MCR 2.1 | P3 | 73 | 291 voltas em 10h06min33s |
2º | Leandro Guerra/Rodrigo di Conti/Marcelo Camacho | Protótipo R1 VW AP 2.0 | P4 | 31 | 277 voltas |
3º | Robbi Perez/José Cordova /Juliano Moro/Maurizio Sala | Protótipo Roco/Ralt Hayabusa 1.4 | P3 | 46 | 254 voltas |
4º | Caio Lacerda/Humberto Guerra Jr/Giovani Almeida | ProtótipoAldee AP 2.0 | P4 | 6 | 249 voltas |
5º | Otávio Carmacio/Rafael Kasai/Mauricio Árias/Vinicius Salva | Vectra Stock Car | TN1A | 17 | 249 voltas |
6º | Estevão Alexandre/Rogerio Dudu | Honda Civic SR | TN1A | 115 | 249 voltas |
7º | Mauro Kern/Márcio Basso /Paulo Sousa/Wellignton Cirino | Protótipo Tubarão Duratec 2.0 T | P2 | 32 | 248 voltas |
8º | Ricardo Savio/George Lisi/Ricardo Parente/Daniel Dini | Chevrolet Corsa 2.0 | TN1A | 216 | 248 voltas |
9º | Emilio Padron/Bruna Tomaselli /Fernando Ohashi/Fernando Fortes/Henrique Assunção | Protótipo Hayabusa 1.3 | P3 | 11 | 241 voltas |
10º | Amauri Rhormans/Eduardo Teixeira/Vinicius Lira/Fillipe Cezario | Ford Fiesta | TN1A | 14 | 241 voltas |
Fontes: Fasp, Letra Delta e redes sociais Mil Milhas Brasil e Absoluta Racing I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e Rodrigo Ruiz