Born to be wild, maior sucesso da banda estado-unidense Steppenwoff, é uma das músicas que entraram para o hall da fama do rock’n’roll, não apenas pelo som pesado e letra sobre alguém “nascido para ser selvagem”, mas, especialmente, pelo fato de protagonizar a trilha sonora de Sem Destino, clássico dos clássicos dos chamados road movies (filmes de estrada), lançado em 1969, retratando as aventuras de Wyatt e Billy – personagens de Peter Fonda e Dennis Hopper – pelas paisagens do sul dos EUA, sobre duas descoladas Harley-Davidson.
Agora, mais de meio século depois, o mesmo espírito de liberdade e ávido por aventuras dentro ou fora do asfalto – mas centenas de milhares de dólares acima daquele modo de viver despojado da trama – é incorporado pelo inédito Porsche 911 Dakar, que já nasce totalmente adaptado para a vida selvagem. Veja:
Na verdade, a nova série exclusiva do modelo mais emblemático da marca de Stuttgart, limitada a 2.500 unidades, é uma celebração da Porsche à sua primeira vitória geral no Rally Paris-Dakar de 1984 – e logo na prova de estreia. O triunfo histórico foi conquistado em simultâneo com o nascimento da tração integral (4×4) para o cupê alemão, que àquela época estava em sua segunda geração, a 930 (primeira com motores turbo), lançada no final de 1974.
A edição especial será oferecida para pré-vendas no Brasil ainda em 2022, segundo a Porsche, mas seus preços e prazo de entrega serão comunicados futuramente.
Criado a partir da oitava (e atual) geração do modelo, a 992, disponível no mercado desde 2019, o Porsche 911 Dakar traz motor boxer de 480 cv, transmissão 4×4 e pode vir customizado com o pacote opcional Rallye Design, que inclui a icônica pintura inspirada no campeão do deserto, entre outros itens.
O primeiro detalhe marcante do Porsche 911 Dakar é sua suspensão, 50 milímetros mais alta do que a de um 911 Carrera. E o sistema de elevação, item de série, pode subir a dianteira e a traseira do carro em mais 30 mm.
Esta altura livre do solo e o ângulo de rampa (ataque) rivalizam com os dos SUVs (utilitários esportivos) convencionais. O sistema de elevação não é utilizado para cruzar obstáculos em baixas velocidades apenas, mas, também, é um componente essencial do refinado chassi.
A configuração de “nível alto” possibilita acelerar fora de estrada em velocidades de até 170 km/h. Acima disso, o carro abaixa automaticamente para a altura normal.
Complementando os atributos esportivos para o off-road, o 911 Dakar é calçado como os pneus Pirelli Scorpion All Terrain Plu, especialmente desenvolvidos, com dimensões de 245/45 ZR 19, na frente, e de 295/40 ZR 20, atrás.
O padrão do desenho robusto das bandas de rodagem (com duas camadas de carcaça) tem nove milímetros de profundidad e paredes laterais reforçadas.
O motor seis cilindros contrapostos – conhecido como boxer – de três litros de capacidade cúbica interna, rende 480 cavalos de potência e 58 kgf.m de torque máximo.
Com isso, o 911 aventureiro oferece desempenho superior e com um som convincente, disparando de zero a 100 km/h em 3,4 segundos. Por causa dos pneus mistos para todos os tipos de terreno, a velocidade máxima é limitada a 240 km/h, “apenas”.
O modelo é equipado com a transmissão PDK de oito velocidades e dupla embreagem, que adiciona a tração integral Porsche. Os itens de série também incluem eixo traseiro direcional, coxins (borrachas anti-impacto) vindos do 911 GT3 e sistema de estabilização antirrolagem Pdcc (Porsche Dynamic Chassi Control).
A interação de todos os componentes faz com que o 911 Dakar seja tão dinâmico na areia quanto na neve ou mesmo no asfalto sagrado do circuito alemão de Nürburgring Nordschleife.
O máximo desempenho em off-road também é assegurado pelos dois novos modos de condução, que podem ser acionados por meio de um seletor no volante. O modo “Rallye” é ideal para pavimentos soltos e irregulares, como cascalho, e apresenta tração total com ênfase nas rodas traseiras.
No modo Off-road, a elevação da altura livre do solo é ativada de forma automática, o que possibilita a máxima tração em terrenos difíceis e na areia. Ambos os modos de condução inéditos incluem, ainda, o Rallye Launch Control, que permite acelerações impressionantes em superfícies lisas, graças ao deslizamento das rodas limitado a cerca de 20% da tração total.
Outras características do 911 Dakar incluem o novo spoiler traseiro leve e fixo, feito de plástico reforçado com fibra de carbono, assim como a tampa do porta-malas.
Há, também, detalhes que remetem ao off-road, como as alças de reboque de alumínio em vermelho na dianteira e na traseira; as caixas e saias das rodas alargadas; e os protetores feitos de aço inoxidável colocados nas saias dianteiras, traseiras e laterais. As tomadas de ar na dianteira também são protegidas com grades de aço inoxidável contra entrada de pedras.
O teto do Porsche 911 Dakar possui uma tomada de 12 volts para os faróis do rack opcional. Com capacidade para 42 quilos, o bagageiro superior pode acomodar acessórios para aventuras off-road como galões de combustível e de água, pás dobráveis e pranchas para vencer atoleiros.
Também é disponibilizada uma barraca de teto para o 911 Dakar, com janelas laterais e na parte superior, propiciando um quarto de hotel ao ar livre para os amantes da natureza.
O principal item do pacote opcional, criado pela divisão de customizações Porsche Exclusive Manufaktur, está o acabamento de pintura em dois tons em branco/azul enzian metálico.
Esta é a primeira vez em que a fábrica implementa a combinação de tinta bicolor e película decorativa em sua linha de produção.
Nas laterais do carro, o cliente pode optar por um número de corrida entre 0 e 999. O pacote Rallye Design também inclui faixas em vermelho e dourado, junto com a inscrição Roughroads nas portas. De acordo com a Porsche, o termo é uma marca registrada e reflete o conceito do 911 Dakar e sua aptidão para condução em condições off-road. No entanto, é notório que trata-se de um trocadilho com a marca de cigarros Rothmans, patrocinadora da equipe campeã do Dakar em 1984.
Em contraste com o 911 de produção, os aros das rodas de alumínio pintados em branco e a lanterna traseira que atravessa toda a largura do carro completam sua aparência distinta.
No interior, o 911 Dakar reforça as suas ambições esportivas com bancos concha completos de série e a remoção dos bancos traseiros. Os vidros leves e a bateria leve reduzem ainda mais seu peso, permitindo que o Porsche 911 Dakar pese apenas 1.605 kg, apenas 10 kg a mais do que o 911 Carrera 4 GTS com transmissão PDK de dupla embreagem.
Um aspecto que define o interior do 911 Dakar são as superfícies revestidas em Race-Tex e em couro, com costuras decorativas em verde. Outros destaques internos exclusivos são os cintos de segurança e acabamentos na cor sharkblue. Para quem pretende usar o modelo nas competições – até mesmo no próprio Paris-Dakar 2024, por que não? – a Porsche oferece um segundo pacote opcional chamado Rallye Sport, que adiciona barras de proteção anticapotamento, cintos de segurança de seis pontos e extintor de incêndio.
Para combinar com o supercarro, os clientes do 911 Dakar podem encomendar separadamente um cronógrafo exclusivo, disponível em dois modelos – 911 Dakar ou 911 Dakar Rallye Design Edition -, ambos desenhados pela Porsche Design.
Pela primeira vez, a carcaça do relógio é feita de carboneto de titânio, um material leve e especialmente resistente a arranhões – ideal para as expedições ou disputas em qualquer tipo de ambiente.
Produzido em 1984 para enfrentar o infame e árduo Rali Paris-Dakar, o 911 4×4 foi criado a partir da versão 930 do cupê esportivo (a segunda geração do 911) – ganhando, por isso, a denominação 953 -, e projetado para suportar condições extremas de calor e terrenos desérticos como nenhum Porsche havia enfrentado anteriormente.
O 953 usava o motor de seis cilindros contrapostos – conhecido como boxer – de 3,2 litros de cilindrada, quase original, apenas com a taxa de compressão reduzida para render melhor com o combustível de baixa qualidade. As mudanças mais radicais do 911 4×4 eram encontradas na parte baixa do carro, especialmente o novo sistema de tração nas quatro rodas com distribuição de potência de 31:69 entre os eixos e um diferencial central de bloqueio manual.
Para enfrentar a maratona de 14 mil quilômetros em alguns dos terrenos mais difíceis e inóspitos da Terra, a Porsche também instalou suspensão com duplo braço triangular (double wishbone) e amortecedores duplos na frente, eixo reforçado com molas helicoidais adicionais na traseira e aumentou o curso das quatro rodas para 270 milímetros.
A carroceria foi fortemente reforçada com uma gaiola de aço tubular soldada, enquanto as portas, o teto, os paralamas dianteiros e toda a área envidraçada foi substituída por peças feitas de plástico do tipo policarbonato, para economizar peso.
Para enfrentar as incríveis distâncias percorridas todos os dias no Paris-Dakar, os engenheiros da Porsche também instalaram um reservatório de combustível de 120 litros no espaço de bagagem dianteiro, além do tanque adicional de 150 litros montado atrás do banco do piloto.
Veteranos de rali, os franceses René Metge, ao volante, e Dominique Lemoyne, na navegação, levaram o novo e radical 911 4×4 à vitória em sua estreia no rali mais difícil do mundo, marcando o primeiro triunfo de um carro esportivo de série na história do Paris-Dakar.
Mas as façanhas alcançadas pelo 911 4×4 naquele Dakar não pararam por aí. O outro carro idêntico, conduzido pelo lendário Jacky Ickx e seu navegador Claude Brasseur, chegou a cair para o 139º lugar após um incêndio iniciado na parte elétrica do veículo.
No entanto, a dupla de tripulantes também com vasto currículo em competições desenvolveu uma espetacular corrida de recuperação e terminou o rali na sexta posição, num ritmo tão rápido quanto o do Porsche vencedor.
Atualmente, o 911 4×4 original faz parte do acervo do Museu da Porsche, em Stuttgart, na Alemanha, de onde sai apenas para eventos especiais. AS última dessas ocasiões aconteceu em 2021, quando participou do GP Ice Race, uma corrida realizada todos os anos pelas estradinhas nevadas dos Alpes Suíços, em homenagem ao fundador Ferdinand Porsche.
E mesmo num ambiente totalmente oposto para o qual foi concebido, o vencedor do Dakar de 1984 manteve o desempenho de campeão, quase quatro décadas depois.
Fonte: Porsche do Brasil I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação, Youtube e reprodução da internet