Foi um fim de semana muito além da imaginação para o piloto brasileiro Felipe Drugovich, no circuito de Monza, na Itália. Em menos de 24 horas, o paranaense de 22 anos deu mais dois grandes passos em direção ao tão suado objetivo de disputar o Mundial de Fórmula 1.
O primeiro deles aconteceu na tarde de sábado (10), após a disputa da sprint race( a corrida curta que antecede a prova principal do domingo), quando Drugovich conquistou o título da temporada de 2022 da FIA Fórmula 2, principal acesso à categoria máxima do automobilismo.
E, no dia seguinte, o momento mais importante da sua carreira de 14 anos nas pistas até aqui, ao ser o primeiro piloto contratado para o programa de desenvolvimento que a equipe Aston Martin estreará na temporada de 2023.
Drugovich, que corre pela equipe holandesa MP Motorsport, chegou a Monza liderando a tabela por uma vantagem de 70 pontos, restando o saldo de 78 ainda a serem conquistados em quatro corridas. Bastava, portanto, que na corrida de sábado o brasileiro terminasse à frente do segundo colocado na tabela, o francês Théo Pourchaire, ou torcer para que o rival não pontuasse entre os seis primeiros colocados.
Na classificação, o Felipe conseguiu apenas a 12ª posição no grid – mas, menos mal, duas à frente de Pourchaire. No entanto, já na primeira volta, o sonho de conquistar o título passou por momentos de pesadelo para Drugovich, quando o carro do brasileiro foi tocado e teve a barra de direção direita danificada; Felipe conseguiu retornar ao box, onde a equipe confirmou a quebra do componente, determinando o fim de prova para ele.
Restava, então, torcer para que Pourchaire não conseguisse os pontos necessários. E o francês fez a “sua parte”, não apenas deixando de pontuar, mas, ainda, terminando em 17º lugar ao final das 21 voltas da sprint. Era o resultado mais do que suficiente para que Drugovich, enfim, deixasse a emoção rolar e partisse para a comemoração com a equipe.
Na corrida principal, domingo, Felipe completou as 30 voltas na 6ª posição; Enzo Fittipaldi, neto de Emerson, terminou em terceiro. Com o resultado, Drugovich parte para a última etapa, em Abu Dhabi, em novembro, com 241 pontos e a vantagem de 77 sobre o vice, Pourchaire.
O brasileiro pavimentou o caminho para o título desde o início da temporada. Ao todo, foram cinco vitórias – incluindo o duplo triunfo em Barcelona (mesmo largando em 10º na segunda prova) e a marcante conquista nas ruas de Mônaco – antes de passar a acumular pontos em todas as rodadas do campeonato.
A distância na liderança permitiu que Drugovich garantisse o título com três corridas de antecedência até o final da temporada. Foi, também, o título mais importante da equipe holandesa MP Motorsport em seus 27 anos de história.
“É incrível, eu realmente não tenho palavras para isso”, disse Drugovich, logo após ser confirmado como o novo campeão. “Quando você começa como um jovem piloto você só sonha com a F1, mas quando você vê como é difícil ganhar um título de F2, isso se torna um sonho – e hoje se tornou a verdade. Nós realmente tentamos ser consistentes este ano, para realmente ter o ritmo em cada corrida. Diz muito. Conseguimos fazer isso muito cedo, então, sim, é o melhor do mundo agora!”
Este foi o primeiro título conquistado por um piloto brasileiro em toda a história da Fórmula 2 moderna – o nome fora utilizado entre as décadas de 1960 e 1980, antes da categoria mudar para F-3000, entre 1988 e 2005 e, depois, para GP2 até 2016 -, encerrando uma lacuna de 22 anos sem um título para o país na principal categoria de acesso à F1. O último fora conquistado por Bruno Junqueira, em 2000, na F-3000. Também foram campeões nessa fase Ricardo Zonta, em 1997, Cristhian Fittipaldi, em 1991, e Roberto Moreno, em 1988, ano em que a categoria passou a adotar a nova denominação.
E, por um capricho da história, o título de Drugovich na F2 foi conquistado exatamente 50 anos depois de outro feito inédito para o Brasil, ocorrido naquele mesmo autódromo de Monza.
No dia 10 de setembro de 1972, Emerson Fittipaldi alcançou o primeiro de seus dois campeonatos de F1 – também por antecipação – inserindo, de vez, o nome do país no cenário do automobilismo mundial.
O anúncio oficial do acordo entre Drugovich e a escuderia britânica foi feito na manhã desta segunda-feira (12), pela própria Aston Martin. Com isso, crescem as chances de o Brasil voltar a ter, em breve, um representante no grid da F1.
O Programa de Desenvolvimento de Pilotos da Aston Martin F1 foi concebido em conjunto com os engenheiros e a gerência da equipe, com o objetivo fornecer uma escada para os pilotos juniores chegarem à categoria principal do automobilismo.
Como membro da iniciativa, Felipe se tornará um dos pilotos reservas da equipe. A intenção é que ele ocupe o cockpit no primeiro treino livre (TL1) do Grande Prêmio de Abu Dhabi, substituindo Lance Stroll – piloto titular e filho de Lawrence Stroll, Presidente Executivo da Aston Martin -, além da participação no teste de pilotos estreantes que acontecerá em novembro, na semana seguinte ao GP de Abu Dhabi, útima etapa da temporada da F1, no próprio circuito de Yas Marina, nos Emirados Árabes.
Para 2023, o brasileiro realizará um extenso programa de testes ao volante do carro AMR21 (construído ainda dentro do regulamento válido até o ano passado), e participará de alguns grandes prêmios como membro da equipe.
Embora o anúncio oficial do acerto entre Drugovich e a Aston Martin só tenha acontecido nesta segunda, a informação foi divulgada em primeira mão dentro do programa Show do Esporte, da TV Band, logo após a transmissão do GP da Itália de F1.
De acordo com a jornalista e apresentadora Glenda Koslowski, os contatos para levar Drugovich à F1 tiveram início em fevereiro deste ano, com a intermediação de um conhecido banco de investimentos brasileiro. No entanto, até o momento, o valor envolvido na negociação não foi divulgado.
“Vencer na Fórmula 2 tem sido considerado como a melhor plataforma de lançamento possível em uma carreira na Fórmula 1, e vejo meu papel na AMF1 me dando todas as ferramentas para dar esse próximo passo crucial”, avaliou Drugovich.
E concluiu: “Para mim, 2023 será uma curva de aprendizado: vou trabalhar com a equipe de F1, mas meu principal objetivo é aprender e desenvolver como piloto. E espero que isso me dê uma oportunidade de correr no futuro”.
Estamos na torcida, campeão!
Fontes: FIA F2, MP Motosport, Aston Martin F1 e TV Band I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e reprodução das redes sociais