Estudos feitos por uma equipe de pesquisadores da Universidade São Paulo (USP), publicado nesta segunda-feira na revista científica internacional Scientific Reports, aponta que metade da poluição atmosférica da região metropolitana de São Paulo é provocada por ônibus e caminhões, apesar desses veículos representarem apenas 5% da frota de veículos local. De acordo com a matéria publicada hoje pelo jornal O Estado de S. Paulo, o trabalho se baseia em uma análise inédita dos poluentes que contaminam a maior área populacional do País, a qual separa o que saiu dos escapamentos dos veículos com motores a diesel, do que foi emitido por veículos leves (carros e motos), movidos a gasolina e etanol.
Ainda de acordo com a pesquisa, uma opção rápida e barata de diminuição do problema seria a instalação de filtros no cano de exaustão dos ônibus. Equipamentos já disponíveis no mercado minimizam a emissão de poluentes dos coletivos em até 95%. No entanto, eles custam entre R$ 10 mil e R$ 20 mil por veículo, o que totalizaria um investimento de até R$ 300 milhões só na cidade de São Paulo, onde circulam 14,5 mil ônibus diariamente. “As soluções existem, e não custam caro; mas são necessárias políticas públicas coerentes de longo prazo para serem implementadas”, afirmou ao jornal Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP, um dos sete cientistas responsáveis pelo estudo. “Mas quanto vale a vida de milhares de pessoas que morrem ou adoecem todos os anos por causa da poluição?”, questionou ele.
Um dos principais componentes tóxicos, que causam ou agravam sobretudo problemas vasculares e respiratórios é a fumaça preta expelida pelos escapamentos dos ônibus, conhecida tecnicamente como material particulado, ou, ainda, como “black carbon” (carbono preto) pelos pesquisadores. O estudo indica que 47% dessa fuligem presente no ar paulistano é produzida pela combustão dos motores de ônibus e caminhões.
A base de dados da pesquisa é a análise contínua de amostras do ar de São Paulo, coletadas durante três meses no topo de um prédio da Faculdade de Saúde Pública da USP, localizado na Avenida Dr. Arnaldo, na região central e mais elevada da capital. Para diferenciar os tipos de emissões, os cientistas utilizaram como traçador uma substância chamada etanolcomo. Segundo eles, é a primeira vez que se faz esse tipo de caracterização em “condições reais”, pois normalmente as estimativas são feitas com base em testes de laboratório.
Durante a greve dos caminhoneiros, acontecida em maio, o diretor do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP), Paulo Saldiva, já havia indicado a melhora do ar em índice semelhante ao longo da paralisação: “Houve uma redução de 50% da poluição na capital paulista. Esse é um episódio raro e vamos estudar suas consequências na saúde pública. Quem sabe, essas evidências quantitativas sirvam de argumento para a criação de políticas públicas”, afirmou o médico na ocasião.
Leave a Reply
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.