A gigante norte-americana da indústria aeronáutica Boeing e a brasileira Embraer, terceira maior fabricante do mundo no setor, anunciaram uma parceria estratégica com o objetivo de impulsionar seu crescimento no mercado aeroespacial global.
Conforme o comunicado divulgado hoje pela Embraer, o acordo prevê a formação de uma joint venture (sociedade) que assume os negócios e serviços de aviação comercial da Embraer, estrategicamente alinhada com as operações de desenvolvimento comercial, produção, marketing e serviços de suporte da Boeing. Nos termos do acordo, a Boeing deterá 80% da propriedade da joint venture e a Embraer, os 20% restantes.
O acordo permitirá à Boeing se posicionar frente a sua única concorrente direta, a francesa Airbus, que recentemente se aliou à canadense Bombardier – maior oponente da Embraer no mercado – para promover sua participação no segmento de jatos regionais.
Privatizada em 1994, atualmente a Embraer movimenta um volume de negócios de 6 bilhões de dólares e emprega 16.000 funcionários. A transação avalia 100 por cento das operações e serviços de aviação comercial da Embraer em 4,75 bilhões de dólares e contempla o pagamento por parte da Boeing do valor de 3,8 bilhões de dólares pelos 80% de propriedade na joint venture. A expectativa é que a parceria proposta seja contabilizada nos resultados da Boeing por ação, no início de 2020, e gere sinergia anual de custos estimada de cerca de 150 milhões de dólares – antes de impostos – até o terceiro ano.
A área de defesa e de aviação executiva da Embraer não fará parte do novo grupo. Isto deve facilitar a aprovação do acordo por parte do governo brasileiro, que dispõe do poder de veto – a chamada “Golden Sare” – em questões estratégicas da Embraer. E a soberania nacional sobre a divisão de projetos militares da fabricante brasileira era a principal objeção apresentada pelo próprio presidente Michel Temer à negociação.
Segundo o jornal Folha de São Paulo, nesta quinta-feira (5), o acordo agora deve ser encaminhado agora ao governo para passar por uma série de auditorias, o pode levar até quatro meses para a conclusão. Depois disso, se o processo avançar, o conselho de administração da nova empresa precisa ser consultado, o que pode levar mais um mês até a deliberação final. Um dos entraves ainda não solucionados é de como será mantido o financiamento de pesquisa, uma vez que existem conexões nesta atividade entre as áreas militar e civil da Embraer.
Se consumada a transação, a joint venture na aviação comercial será liderada por uma equipe de executivos sediada em São José dos Campos, SP, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente, chairman e CEO da Boeing. “Ao formarmos essa parceria estratégica, estaremos muito bem preparados para gerar valor significativo para os clientes, empregados e acionistas de ambas as empresas – e para o Brasil e os Estados Unidos”, disse Muilenburg. “Esta importante parceria está claramente alinhada à estratégia de longo prazo da Boeing de investir em crescimento orgânico e retorno de valor aos acionistas, complementada por acordos estratégicos que aprimoram e aceleram nossos planos de crescimento”, concluiu.
Pelo que foi acordado, a joint venture se tornará um dos centros de excelência da Boeing para o desenvolvimento de projetos, a fabricação e manutenção de aeronaves comerciais de passageiros e será totalmente integrada à cadeia geral de produção e fornecimento da Boeing. A Boeing e a joint venture estarão aptas a oferecer uma linha abrangente e complementar de aeronaves de passageiros de 70 a mais de 450 assentos, além de aviões de carga, oferecendo produtos e serviços do mais alto nível para melhor atender uma base global de clientes.
Também conforme o comunicado, a transação não terá impacto nas projeções financeiras da Boeing e da Embraer para 2018, bem como na estratégia de implantação de capital e no compromisso da Boeing de retornar cerca de 100% do fluxo de caixa livre para os acionistas.
Além disso, as empresas também irão criar outra joint venture para promoção e desenvolvimento de novos mercados e aplicações para produtos e serviços de defesa, em especial o avião multimissão KC-390, a partir de oportunidades identificadas em conjunto.
A divisão militar da Embraer, desvinculada ao acordo, é responsável por apenas 15% de seu lucro líquido, mas de grande importância estratégica. Por esta razão, o governo exigia garantias sobre os projetos desse segmento, não só os militares, como o novo caça brasileiro desenvolvido em parceria com a fabricante sueca Saab, mas que também abrangem tecnologias de controle de tráfego aéreo e do submarino nuclear brasileiro.
A solução encontrada, ao que parece, representa o melhor dos mundos para a Embraer. Foi excluída da negociação a área de projetos militares, bem como a de serviços e de aviação executiva, a qual responde por 25% do lucro, que passam a compor as operações da “antiga” Embraer, que permanece 100% nacional.
“Esse acordo com a Boeing criará a mais importante parceria estratégica da indústria aeroespacial, fortalecendo ambas as empresas e sua posição de liderança do mercado mundial”, disse Paulo Cesar de Souza e Silva, presidente e CEO da Embraer. “A combinação de negócios com a Boeing deverá gerar um novo ciclo virtuoso para a indústria aeroespacial brasileira, com maior potencial de vendas, aumento de produção, geração de emprego e renda, investimentos e exportações, agregando maior valor para clientes, acionistas e empregados”.
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