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Ford Escort RS Turbo da princesa Diana é leiloado por uma fábula

Ford Escort RS Turbo da princesa Diana é vendido por uma fábula

O serviço de segurança da família real britânica bem que tentou, oferecendo à Sua Alteza uma lista de carros de sonhos da Rolls-Royce e da Mercedes-Benz, todos devidamente blindados e com motorista, para que escolhesse um deles como sua “carruagem” pessoal.

Mas, em busca de manter sua rotina o mais próximo da vida pré-realeza, Diana Spencer, a Princesa de Gales preferia conduzir pessoalmente seu carro (sempre que a segruança permitia), como nos tempos em que era uma anônima enfermeira em Londres. E, vale mencionar, um hábito tradicional da própria Rainha Elizabeth II, mãe do Príncipe Charles, seu marido, que, desde a juventude até poucos anos atrás, enquanto as condições de saúde lhe permitiram, dirigia ela mesma os carros da frota real – sobretudo os utilitários esportivos.

Carro de princesa: com exatos 22 anos de uso, Escort RS Turbo S1 rodou pouco mais de 40 mil km

Por isso, naqueles meados de 1985, quatro anos depois de ganhar o título de princesa, Diana preferiu que lhe fosse disponibilizado um modelo com perfil relativamente mais “plebeu”, se é que se pode ver assim o Ford Escort 1.6i Cabriolet, na cor vermelha. Segundo a casa de leilões britânica Silverstone Auctions, é possível que este fosse o segundo Escort de Diana; o primeiro teria sido presenteado pelo próprio Charles.

 

No entanto, o conversível foi considerado inadequado pelo SO14, o serviço de operações especiais da polícia metropolitana de Londres, que, entre outras funções, é responsável pela segurança pessoal de todos os integrantes da realeza do Reino Unido.

O motivo seria o teto de lona, com acionamento manual, que oferecia pouca privacidade, já que não poderia ser acionado às pressas, e com proteção zero.

Exemplar pertence à primeira série (S1) do hatch esportivo da Ford, lançado em 1985 na Europa

Insistindo na opção por um carro discreto, Diana – ou “Lady Di”, como era carinhosamente conhecida em todo o mundo – mudou sua escolha para a recém-lançada configuração esportiva RS Turbo Series 1 (um parente mais nervoso do nosso saudoso XR3), com motor de 136 cv, oferecida unicamente na cor branca. Contudo, o departamento de Relações Públicas da Ford sugeriu produzir uma unidade mais sóbria, em preto, exclusivamente para a princesa.

A recomendação foi atendida e há quem defenda que o carro seja o único exemplar do RS Turbo S1 nessa cor. Mas é possível encontrar na internet pelo menos mais uma unidade à venda, das cinco que foram produzidas genuinamente, segundo o negociante.

Por segurança, RS ganhou cor preta e grade frontal standard, mais sóbrias, e outro retrovisor interno

O departamento de Engenharia Especial de Veículos da montadora foi incumbido de pintar o carro e, para ajudar no “disfarce”, substituiu a grade frontal esportiva de três lâminas pela que equipava a configuração standart do Escort (com cinco lâminas); fora isso, foi instalado um espelho retrovisor interno secundário para o agente de segurança, além de um rádio comunicador no porta-luvas, que mantém o cabo para conexão até hoje.

Rotina: Diana dirige o RS, acompanhada pelo príncipe William, no assento infantil, e pelo segurança

Registrado em 23 de agosto de 1985, o RS Turbo S1 e sua famosa motorista foram amplamente fotografados circulando por Londres, nos anos seguintes, entre as boutiques de Chelsea e os restaurantes de Kensington. Em uma foto publicada pela imprensa, o futuro rei, príncipe William, está acomodado no assento infantil, atrás, enquanto sua mãe sorri ao volante, acompanhada pelo segurança, no banco do passageiro.

Diana usou o carro até 1988, quando foi devolvido à Ford Motor Company, com cerca de 6.800 milhas no hodômetro, o que equivale a pouco menos de 11 mil quilômetros rodados.

Modelo teve as placas mudadas após a devolução à Ford, mas voltou à licença original

Dentro da montadora, o carro foi adquirido pelo gerente do departamento de Vendas governamentais da empresa, Geoff King, para uso de sua esposa. Mais tarde, o RS foi sorteado em uma promoção da rádio Kiss FM da Inglaterra, em setembro de 1993, vencida pela cantora britânica Miss Jones, com o hodômetro marcando cerca de 12.000 milhas (em torno de 19.300 km). No ano seguinte, o carro passou para as mãos de um colecionador conhecido como Sr. Windsor. Algum tempo depois, em 2008, o carro chamou a atenção do zelador de uma das melhores coleções de Ford RS do país, que acabou por comprá-lo.

Mesmo passando pelas mãos de tanta gente, o carro foi mantido impecavelmente como uma peça de arte. No último sábado (27), o Escort da princesa Diana foi levado a leilão pela Silverstone Auctions, em um evento realizado dentro do autódromo homônimo. Registrando pouco mais de 40.162 km no painel, o veículo foi arrematado pelo valor “surreal” de 722,5 mil libras esterlinas – ou, R$ 4,2 milhões. Apenas como comparação, essa quantia é suficiente para comprar quase cinco superesportivos McLaren 570S, que custa, lá no Reino Unido, em torno de 151 mil libras (R$ 908 mil). Não foram reveladas informações do novo proprietário.

Íntegro: Escort RS foi mantido em absoluto estado de zero quilômetro, por fora e por dentro

O arquivo de história do carro foi meticulosamente arquivado e cópia de memorandos internos da Ford confirma a mudança das placas de licença – como é comum com os carros usados pela família real -, quando foi devolvido à fábrica, em maio de 1988.

Outra documentação mostra o recadastramento bem-sucedido do carro de volta à licença original – C462 FHK -, feito nos últimos anos. O arquivo contém dezenas de comprovantes das vistorias anuais obrigatórias (MOT) confirmando a quilometragem, além de uma chave sobressalente, matrícula no clube de proprietários de Escort RS, recibos de manutenção, memorandos internos da Ford, recortes de jornal e fotografias da princesa junto aos documentos de registro do carro.

Vasta documentação do veículo comprova a autenticidade de sua realeza

Nesta quarta-feira, 31 de agosto, se completam 25 anos da morte de Diana, após um acidente automobilístico nas ruas de Paris. Divorciada de Charles havia exatamente um ano, ela voltava de um jantar no banco traseiro do veículo, ao lado do namorado, o empresário egípcio Dodi Fayed. De repente, a limusine Mercedes-Benz Classe S em que estavam começou a ser seguida por motos com os indesejados fotógrafos paparazzis, caçadores de flagrantes da vida alheia.

O motorista da limusine tentou fugir acelerando em alta velocidade, mas, ao entrar em um túnel junto ao rio Sena, perdeu o controle do carro, que bateu violentamente contra um pilar da via, por volta de 0h23. Levada ao hospital, Diana não resistiu a uma hemorragia interna no tórax e faleceu três horas depois. Morreram também Dodi e o motorista, Henri Paul, acusado de embriaguez pela polícia francesa. O único a sobreviver foi o segurança do empresário, que viajava no banco do carona dianteiro e foi salvo por ser o único dos ocupantes a usar o cinto de segurança, combinado ao airbag.

A Princesa de Wales usou o carro de 1985 a 1988, quando foi devolvido à Ford

Por ironia do destino, Diana teve a vida interrompida precocemente, aos 36 anos de idade, a bordo de um carro de luxo com motorista particular – tudo o que ela sempre procurou se distanciar ao volante do seu Escort RS.

IDENTIFICAÇÃO

Modelo Ford Escort RS Turbo Série 1
Ano de fabricação 1985
Cor da carroceria Preto
Chassi WF0BXXGCABFA81486
Motor FA81486
Licença C462 FHK

Contudo, infelizmente, nem todo veículo antigo que traz em sua história a relação com personagens ou fatos marcantes vive o mesmo conto de fadas que o RS da princesa.

Aqui no Brasil, entre tantos exemplos, podem ser mencionados outros Ford Escort esportivos muito especiais: os XR3 utilizados por Ayrton Senna.

Ayrton e o XR3 em frente à casa da família Senna da Silva, na zona norte de São Paulo

A relação entre Senna e a Ford começou muito antes de o piloto se tornar um tricampeão mundial de Fórmula 1.

No início da década de 1980, antes de estrear na Fórmula Ford inglesa, o piloto procurou a empresa no Brasil, de acordo com a matéria publicada pelo portal UOL. O objetivo do jovem piloto em ascensão, que acabava de consolidar uma carreira vitoriosa no kart, não era pedir patrocínio, mas, sim, uma carta de recomendação da Ford Brasil. “A carta foi feita e depois disso ele nunca esqueceu da marca por aqui”, segundo o relato de Célio Galvão, ex-gerente de comunicação da montadora e da extinta Fórmula Ford brasileira – com a qual, aliás, Senna jamais teve qualquer contato.

Ao todo, Senna teve à disposição três unidades do esportivo, entre elas o conversível vermelho

Ao final de 1982, depois de conquistar os títulos inglês e europeu da F-Ford 2000, consecutivamente ao da F-Ford 1600, no ano anterior, Senna esteve na matriz da montadora no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP), para receber um troféu das mãos do presidente da empresa, Robert Gerrety, um estado-unidense entusiasta do automobilismo.

Algum tempo depois, Senna foi escolhido pela empresa para ser protagonizar algumas campanhas publicitárias. Em 1983, ele participou do lançamento Corcel II e, no ano seguinte, quando disputou sua primeira temporada na Fórmula 1, pela equipe Toleman, estrelou o filme de lançamento do Escort XR3. Lembra dele? Veja:

https://www.youtube.com/watch?v=_7wr5ZcL574

No evento de apresentação do carro, realizado no saudoso Autódromo de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro (RJ), que era a sede do GP do Brasil de Fórmula 1, na época, Senna completou uma volta inteira com o XR3 pela pista sem utilizar o freio. “E ele foi só atravessando o carro de lado nas curvas, demonstrando um controle impressionante do veículo”, lembrou Hélio Perini, ex-gerente da área de competições da Ford, ao UOL. Naquele mesmo ano, o XR3 foi o pace car da etapa brasileira da F1, dando origem a uma série limitada a 350 unidades do modelo.

Como retribuição pela participação na campanha de lançameto do XR3, Senna pode levar para casa um deles, na cor prata, com o qual circulava pela capital paulista, enquanto seu rosto ainda não era tão conhecido. Em imagens da época, o piloto é visto junto do carro na garagem de casa e em frente ao seu escritório, ambos na zona norte de São Paulo.

Enquanto o anonimato permitiu, Senna usava o cXR3 para se deslocar na capital paulista

Assim como no caso da princesa Diana, o carro era emprestado pela fábrica. “Ele usou o XR3 por um tempo no Brasil. Era um veículo cedido a ele em comodato, possivelmente como uma ação planejada pela área de marketing com duração de dois a três anos”, explicou Perini na reportagem. Por isso, o carro foi emplacado em São Bernardo, onde ficava a Ford.

Mas, ainda dentro da matéria do UOL, Leonardo Senna, irmão mais novo de Ayrton, revela que aquele não foi o único exemplar utilizado pelo piloto no Brasil. “Ele teve tanto o Escort XR3 ‘normal’ como o conversível. O primeiro deles foi um preto, o segundo foi um prata e o conversível era vermelho”, enumera Leonardo. “Ele ficou com esses carros até o final dos anos 80, por volta de 1985 ou 1986. Depois disso os carros foram devolvidos para a Ford.”

Em ascensão: Senna estrelou a campanha de lançamento do XR3 em 1984, ano de sua chegada à F1

Contudo, diferentemente da subsidiária britânica em relação ao Escort RS de Diana, a Ford Brasil não rastreou essas três unidades muito especiais do XR3. E, procurada a respeito, antes de encerrar suas atividades como fabricante no País, no ano passado, a empresa não tinha informações sobre o paradeiro dos veículos da marca utilizados pelo tricampeão mundial.

Agora, imagine, caro leitor, o valor que um ou dois desses XR3 poderiam alcançar em leilões com renda revertida para o Instituto de incentivo à educação que leva o nome do piloto ou em alguma destas campanhas anuais de TV para a arrecadação de fundos destinados a programas de assistência para crianças carentes. O terceiro XR3 – quem sabe, o prata – poderia ser preservado pela Ford, ou mais seguramente, pela própria família do ídolo. Mas…

Fontes: Silverstone Auctions, UOL e Clube do Carro Antigo I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e reprodução da internet

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