Fórmula 4 Brasil estreia em 2022 com chancela da FIA

Promotora da Stock Car e CBA fecham acordo para trazer categoria oficialmente ao País. Carros terão inédito chassi de fibra de carbono e motores 1.4 turbo, de 176 cv




Fórmula 4 Brasil estreia em 2022 com chancela da FIA

Aproveitando a comemoração ao Dia da Bandeira, hoje, conheça agora a mais nova categoria verde e amarela, que chega com a missão de revelar os jovens talentos do nosso automobilismo. A iniciativa tem a assinatura da Vicar, promotora do campeonato brasileiro de Stock Car, que anunciou a realização do Fórmula 4 Brasil a partir de 2022, com certificação da FIA, a Federação Internacional do Automóvel. O acordo foi fechado em agosto, na Itália, junto à Tatuus, fabricante oficial dos carros da F4 e licenciada pela entidade máxima do automobilismo. A categoria nacional será supervisionada pela Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e vai usar os mesmos monopostos de segunda geração que só estrearão mundialmente nas competições em 2022.

Lançada em 2014, a FIA Formula 4 foi criada para oferecer aos jovens pilotos ao redor do mundo a oportunidade de dar o primeiro passo do kart para os automóveis de competição do tipo monoposto, chamados de fórmulas. O carro de F4 foi desenhado para manter os custos baixos, ao mesmo tempo em que proporciona uma ferramenta ideal de aprendizado para os jovens pilotos que nunca tenham corrido de automóveis.

Categoria brasileira terá os novos chassis Tatuus F4 T-021 de segunda geração

A Fórmula 4 Brasil Certificada pela FIA, nome oficial da competição, será incluída nas etapas da Stock Car Pro Series, a mais disputada e tradicional categoria do automobilismo brasileiro, que tem 12 rodadas previstas para o ano que vem. Segundo os organizadores, a primeira temporada da F4 Brasil será formada por 18 corridas, divididas em seis rodadas com três provas, cada. Contudo, o calendário F4 Brasil ainda não foi divulgado pela empresa promotora.

As corridas terão transmissão ao vivo pelo canal BandSports e mídias da Stock Car (Facebook e Youtube). No total, contando todas as provas, treinos livres e classificatórios, os pilotos terão a oportunidade de percorrer cerca de 3 mil km ao volante durante toda a temporada.

Fórmula 4 Brasil

O projeto da Fórmula 4 Brasil inclui, também, uma academia voltada a instruir os pilotos sobre temas relevantes para a atividade profissional dentro das pistas, como noções de marketing, relacionamento com a imprensa (media training), posicionamento em redes sociais, conhecimentos de mecânica e de eletrônica do carro, interpretação de dados e interação com a equipe e engenheiros, entre outros conteúdos do aprendizado.

Além de incluir o selo FIA em seu nome oficial – como acontece em todos os campeonatos da categoria ao redor do mundo chancelados por ela -, a Fórmula 4 Brasil comprova sua importância dentro das diretrizes da entidade máxima do esporte ao conceder ao seu campeão 12 dos 40 pontos do ranking exigido dos pilotos para o acesso à Fórmula 1.

Tatuus F.4 T-021

A Fórmula 4 Brasil utilizará o modelo F4 T-021, segunda e ainda inédita geração do chassi com estrutura de fibra de carbono fabricado pela italiana Tatuus, que estreará nas pistas em 2022. A primeira exibição oficial do novo carro da F4 está prevista para as provas preliminares do Grande `Prêmio de Abu Dhabi de Fórmula 1, que acontecerá em 12 de dezembro, última prova da temporada. As imagens do novo carro em movimento vistas nesta matéria foram feitas durante os testes realizados no circuito de Varano, na Itália, em setembro.

Os 16 monopostos que serão trazidos para a disputa da competição brasileira seguem as novas especificações de segurança da FIA, o que inclui o dispositivo de proteção conhecido como halo, formado por uma barra elevada ao redor do cockpit, acima da cabeça do piloto.

Tatuus F.4 T-021

Introduzido em 2018 na Fórmula 1 e nas principais categorias de monopostos da FIA, como a Fórmula E, F2, F3 e F4, desde então o equipamento tem sido responsável por evitar lesões graves e consequências até fatais em dezenas de acidentes.

Dois exemplos mais marcantes de como esta tecnologia pode salvar vidas – mas que muitos torceram o nariz, a princípio – foram os incidentes ocorridos com Romain Grosjean, no GP do Bahrein de 2020, no qual o halo impediu que a cabeça do piloto fosse atingida quando sua Haas atravessou por entre duas lâminas do guard-rail; e, mais recentemente, no GP da Itália deste ano, após a batida entre Lewis Hamilton e Max Verstappen, o equipamento suportou o peso da Red Bull do holandês, que “estacionou” sobre o cockpit do Mercedes do piloto inglês, evitando que o heptacampeão sofresse sérias lesões na coluna cervical, com riscos de paralisia total e permanente abaixo do pescoço e até mesmo de morte.

Tatuus F.4 T-021

Os recursos de segurança dos carros da F4 também incluem a célula de sobrevivência que envolve o piloto, moldada em uma única peça de fibra de carbono e reforçada com painéis anti-intrusão e espuma de absorção de impacto nas laterais; estruturas de deformação dianteira e traseira; proteções removíveis ao redor da cabeça e nos pés do piloto; assento extraível em caso de acidente; extintor de incêndio acionado eletronicamente; cabos de retenção de rodas, para impedir que sejam projetadas em caso de acidente; e reservatório de combustível padrão FIA.

Sob o assoalho do chassi são fixadas placas de proteção contra impactos, com 10 mm de espessura, e anti-derrapagem, de 5 mm.

Tatuus F.4 T-021

As carenagens que cobrem o motor e as laterais do carro também são moldadas em fibra de carbono com reforço de kevlar (tipo de plástico ultrarresistente), assim como as asas dianteira e traseira ajustáveis, no padrão FIA.

Os fluxos de ar que passam em cima e debaixo do carro, bem como os direcionados para os radiadores laterais, foram otimizados por meio da tecnologia CFD (Computational Fluid Dynamics). O Tatuus F4 T-021 permite a regulagem das entradas de refrigeração e extração de ar e, para extrair o máximo de eficiência do chassi, as equipes terão à disposição o mapa aerodinâmico para regulagem das asas dianteira e traseira, do gurney (lâmina vertical fixada acima da borda traseira da asa posterior, que aumenta a pressão do ar sobre o carro) e da altura do assoalho em relação ao solo, na frente e atrás.

Tatuus F.4 T-021

As suspensões dianteira e traseira têm desenho do tipo pushrod, com triângulos duplos sobrepostos, amortecedores duplos ajustáveis e molas Eibach, de 36 mm. O sistema de freios é composto por pinças de quatro pistões e discos ventilados.

As rodas de alumínio produzidas pela italiana OZ têm medidas de 8×13”, na frente, e 10×13”, atrás. Os pneus Pirelli, da mesma marca fornecedora para a Stock Car, serão importados nas versões P Zero, para pista seca (slick), e Cinturato, para chuva, ambas com dimensões de 200/540-13 (dianteiros) e 250/575-13 (traseiros).

Motor Abarth-Autotecnica 1.4 turbo rende 176 cv a 5.500 rpm e 25,5 kgf.m a 4.000 rpm

O motor adotado para os carros da F4 Brasil será o Abarth-Autotecnica, de quatro cilindros em linha, 1.370 cm³ de cilindrada, turboalimentado, duplo comando de válvulas, gerenciamento ECU Marelli SRG-141, com potência de 176 cv, a 5.500 rpm, e torque máximo de 25,5 kgf.m, a 4.000 giros. O câmbio de seis marchas, desenvolvido pela Tatuus em parceria com a fabricante francesa Sadev, tem acionamento por meio de aletas atrás do volante (paddle shifts) e gerenciamento eletrônico da Magneti-Marelli.

O monitoramento de dados para ajuste do chassi (ou setup, no jargão das pistas) analisa a pressão nos quatro conjuntos de freios, ângulo de esterço do volante, velocidade das rodas dianteiras, posição do acelerador e marcha selecionada, entre outros parâmetros. Todos os principais dados são exibidos na tela do computador de bordo, posicionada no volante.

A igualdade entre os carros garante bons pegas nas competições da F4 pelo mundo

Atualmente, a Fórmula 4 possui campeonatos na França, Reino Unido, China, Alemanha, Itália, Japão, Espanha, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos, além de competições regionais na América do Norte e Sudeste da Ásia.

Contudo, vale lembrar que esta não será a primeira incursão dos monopostos da F4 na América do Sul. Em 2013, a Associação Uruguaia de Volantes comprou os 20 carros usados ​​anteriormente na extinta Fórmula Futuro, introduzida no Brasil em 2020 pelo piloto Felipe Massa, com apoio da Fiat, mas que teve apenas duas temporadas realizadas. Os chassis Signatech, com monocoque de fibra de carbono, foram construídos pela empresa francesa Signature, e equipados com motores Fiat E.torQ, de 1,8 litro e 160 cv.

Brasileiro Juan Vieira faturou os dois últimos campeonatos da F4 Sudamericana, em 2018 e 2019

Entre 2014 e 2019 foram disputadas sete temporadas da então Formula 4 Sudamericana, sem o reconhecimento da FIA. Após um ano de interrupção em 2017, a competição partiu, no ano seguinte, para uma nova estratégia, mudando o nome para Formula Academy Sudamericana, passando a contar com mais etapas no Brasil, realizadas em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul; Londrina e Cascavel, no Paraná; e Mogi Guaçu e Interlagos, em São Paulo.

O brasileiro Juan Vieira foi campeão das duas últimas temporadas disputadas. Em 2020, a categoria foi interrompida e não retornou.

Felipe Massa lidera a F-Chevrolet em Londrina, em 1999, ano em que conquistou o título da categoria

Por fim, esta também não será a primeira vez em que a Stock Car compartilhará os boxes com uma categoria de monopostos. Entre 1992 e 2001, o evento denominado Chevrolet Challenge unia as categorias de turismo Stock Car e Stock Car Light, e a Fórmula Chevrolet, subdividida nas classes A e B.

Nascida à imagem e semelhança das F-Opel alemã e europeia (essa última vencida por Rubens Barrichello, em 1990) e da F-Vauxhall, no Reino Unido, os F-Chevrolet possuíam chassi com estrutura tubular – produzidos pela extinta fabricante britânica Reynard Motorsport -, e equipados com motor 2.0 do Opel Calibra, que alcançavam 190 cv de potência.

Djalma Fogaça foi o primeiro campeão da Fórmula Chevrolet, em 1992

Nomes como Djalma Fogaça, Tony Kanaan, Tarso Marques, Felipe Giaffone, Hélio Castroneves, Felipe Massa, Ricardo Zonta e Cristiano da Matta alinharam no grid da Fórmula Chevrolet antes de tentarem a sorte para voos mais altos nos mais diversos campeonatos internacionais nos anos seguintes.

E, agora, nasce a expectativa de que a nova Fórmula 4 Brasil resgate este papel de revelar novos talentos do automobilismo brasileiro entre as categorias de rodas descobertas, a fim de que seja continuada a nossa história marcante e vencedora na Fórmula 1 e na F-Indy.

Fonte: Stock Car, FIA, Tatuus, F4 Sudamericana e Wikipedia Brasil I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e redes sociais




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