Richard Branson realiza sonho de ir ao espaço

Fundador do grupo Virgin participa do primeiro voo totalmente tripulado da nave USS Unity até a gravidade zero, um grande salto rumo ao turismo em órbita da Terra




Richard Branson largou na frente na nova era da corrida espacial. O bilionário e empreendedor britânico, de 70 anos, e outros seis colaboradores da Virgin Galactic, empresa aeroespacial fundada por ele mesmo, fizeram o primeiro voo de teste com tripulação completa na cabine da nave Virgin SpaceShip Unity até a altitude de gravidade zero, na fronteira entre a atmosfera terrestre e o espaço infinito.

A missão realizada no último domingo (11) foi o 22º teste de voo da VSS Unity, veículo que representa primeira geração de naves espaciais para uso comercial construídas pela Virgin.

Este foi o 22º voo de teste da VSS Unity, mas o primeiro com tripulação de sete ocupantes completa

Durante a viagem técnica, Branson e a equipe cumpriram vários testes objetivos e avaliações relacionados à cabine e com a experiência do cliente, como as acomodações, vista da Terra e condições para produzir pesquisas.

Também foi analisada a efetividade do programa de treinamento para o voo, realizado durante os cinco dias anteriores ao lançamento, na base de lançamentos Spaceport America, em Las Cruces, no estado do Novo México, Estados Unidos, ao qual a tripulação foi submetida e será aplicado, também, aos futuros viajantes espaciais.

VSS Unity é lançada em voo a partir da asa central da nave-mãe VMS Eve

“Hoje é uma conquista marcante para a companhia e um momento histórico para a nova indústria espacial comercial”, disse Michael Colglazier, presidente-executivo da Virgin Galactic.

“A cada missão bem-sucedida, estamos pavimentando o caminho para a nova geração de astronautas. Eu quero agradecer à nossa talentosa equipe, incluindo nossos pilotos e tripulação, cuja dedicação e comprometimento tornaram o dia de hoje possível. Eles estão ajudando a abrir a porta para o grande acesso ao espaço – que poderá ser para muitos e não apenas para alguns”, preconizou.

Após desconexão, nave atinge a velocidade de Mach 3, acima de 3.600 km/h, rumo à gravidade zero

Batizada como VSS Unity em homenagem ao físico britânico Stephen Hawking, a espaçonave que levou Branson e sua equipe ao espaço pertence à segunda geração de veículos reusáveis projetado e produzido pela Virgin Galactic, chamada de SpaceShipTwo, cujo desenho com asas permite levar ao espaço até seis pessoas (incluindo os dois pilotos) com segurança e com frequência elevada.

A SpaceShipTwo é impulsionada por um motor de foguete híbrido – combinando elementos de jato propulsão movidos por combustíveis líquidos e sólidos. O veículo pode desligar o motor rapidamente e de forma segura a qualquer momento durante o voo.

Nave retrai a asas a 90º para ampliar a visibilidade a bordo e frear a reentrada na atmosfera

A característica mais inovadora da VSS Unity é sua capacidade única de mudar o formato durante a permanência no espaço, para assegurar a reentrada segura na atmosfera repetidamente. Ao rotacionar as asas principais a 90º em relação à fuselagem (cabine), junto com os lemes da cauda, a estabilidade do veículo e a razão de desaceleração na descida é controlado pelas forças aerodinâmicas.

Segundo a Virgin Galactic, esse desenho de “plumagem” reúne o melhor dos designs tanto da cápsula tradicional quanto dos veículos espaciais alado, além de adicionar ainda mais magia ao voo. Esse conceito é frequentemente comparado ao artefato parecido com uma peteca arremessado com a raquete no jogo de badminton (que, por sua vez, se assemelha ao tênis, porém em recinto fechado e menor), e prova que, às vezes, os projetos mais inovadores podem surgir das mais simples origens.  

Assentos são personalizados para cada astronauta e contam com amortecimento

Ainda de acordo com a Virgin Galactic, a exposição às forças G (gravitacionais) durante a subida e a descida da VSS Unity é conduzida de forma segura e confortável aos ocupantes, graças aos assentos articulados e com desenho personalizado. A cabine é espaçosa, com o interior especialmente desenhado para otimizar a livre circulação dos astronautas durante a experiência de gravidade zero.

Para muitos dos futuros astronautas da USS Unity, a viagem ao espaço será marcada pelas imagens. Por essa razão, a nave possui mais janelas do que qualquer outro veículo espacial em toda a história. Além disso, os pilotos direcionam a nave de forma que fique com o teto voltado para a Terra, completando um looping (giro em torno de si mesmo) no espaço, permitindo a cada astronauta olhar para o cosmos e para o nosso planeta, lá embaixo, sob uma nova perspectiva a cada direção.

Com 43 m de envergadura, VMS Eve é a maior aeronave feita 100% de compósitos de fibra de carbono

Por questões de segurança, experiência dos passageiros e eficiência de energia (ou consumo de combustível) – e, por isso, idealmente adequado para o turismo espacial – o lançamento da VSS Unity é feito em voo, a partir da nave-mãe VMS Eve, que é o nome de batismo adotado para o veículo WhiteKnightTwo, também construído pela Virgin Galactic.

Apresentado em 2008, o WhiteKnightTwo, também de segunda geração, é um avião quadrimotor a jato, com dupla fuselagem em forma de catamarã, construído especialmente para levar as espaçonaves do modelo da VSS Unity até a altitude de 50 mil pés (15.240 m). Medindo 24 m de comprimento e a distância de 43 m de uma ponta à outra da asa (envergadura), o VMS Eve é, atualmente, o maior veículo aeronáutico em serviço feito inteiramente de materiais compósitos de fibra de carbono. Por ser um material extremamente leve e resistente, ele permite cargueiro uma singular capacidade para transportar até 17 toneladas a altitude máxima 15.240 m. Ao mesmo tempo, o desenho de catamarã propicia uma grande área de carga e com grande acessibilidade, além de facilitar a liberação da espaçonave.

Giro espacial: apogeu do voo acontece a 86 km de altura, com gravidade zero e vista para o cosmos

Após a decolagem feita de forma convencional na pista do Spaceport America, a VMS Eve alcança o teto de voo (15.240 m), quando a VSS Unity é liberada para entrar num rápido planeio. Em questão de segundos, o motor de foguete é acionado e o nariz da Unity é apontado quase para uma subida vertical, provocando a aceleração de 3.5G (três vezes e meia a força da gravidade) sobre todos os ocupantes.

De acordo com a Virgin Galactic, o voo que levou Branson e sua equipe ao espaço atingiu a velocidade de Mach 3 – ou seja, três vezes a velocidade do som, o que representa 3.672 km/h. No momento apropriado, os pilotos desligam a propulsão e a VSS Unity continua em subida, por embalo, até atingir o apogeu da trajetória, a 86 km de altitude acima do mar.

Assim que o motor é desligado, ocupantes são liberados para a experiência de gravidade zero

Assim que o motor é cortado, começa a experiência espacial para os ocupantes, propriamente, quando é permitido a todos a bordo deixar os seus assentos e por vários minutos experimentarem a inédita sensação de gravidade zero, levitando no espaço dentro da cabine. Enquanto isso, a nave é manobrada de forma a proporcionar a melhor vista possível da Terra e da escuridão do espaço, ao mesmo tempo em que as asas da nave são dobradas, a fim de ampliar o campo de visão. Assim que a gravidade atrai de volta a espaçonave em direção à Terra, os astronautas retornam aos seus assentos personalizados, antes que o ar externo se adense e desacelere rapidamente o veículo.

A cerca de 15.000 metros, novamente, a VSS Unity é retornada à configuração normal, antes de planar suavemente a caminho da aterrissagem, também convencional, na mesma pista da partida. Entre a decolagem e o retorno ao solo, o tempo total de viagem é de cerca de 17 min.

Moses, Branson, Bandla e Beneth pouco antes do voo que os elevaria à categoria de astronautas

Acompanharam Branson na cabine da missão os especialistas Beth Moses, instrutora-chefe dos astronautas; Colin Bennett, engenheiro-chefe das operações de voo; Sirisha Bandla, vice-presidente de relações governamentais e operações de pesquisa, enquanto nos postos de comando da espaçonave estavam os pilotos Dave Mackay e Michael Masucci. Participaram do lançamento, também, Kelly Latimer e CJ Sturckow, que pilotaram a VMS Eve.

Fim da viagem: VSS Unity pousa como um avião no Spaceport America, mesmo local da partida

Ao tocarem novamente o solo em segurança, Branson e seus colaboradores já estavam elevados ao seleto grupo dos astronautas, conforme as normas aeronáuticas internacionais, e, mais do que isso, deixavam abertas as portas de uma nova era para o conhecimento ou mesmo do entretenimento, a do turismo espacial. Ela tornará possível a qualquer pessoa que possa pagar pelo bilhete a experiência única de ver com os próprios olhos a curvatura da Terra e todas as nuances do planeta azul – privilégio reservado, até agora, a militares e cientistas.

O momento seminal para a Virgin Galactic foi testemunhado por milhões de pessoas em todo o mundo, por meio da transmissão ao vivo da missão no canal da empresa no Youtube. As imagens deram uma amostra da jornada que os futuros astronautas podem esperar quando o serviço comercial for lançado, após a conclusão do programa de testes. Veja:

“Eu tenho sonhado com este momento desde quando era criança, mas nada poderia ter me preparado para a visão da Terra lá do espaço. Nós estamos na vanguarda da nova idade espacial. Como fundador da Virgin, estava honrado em testar a incrível experiência do cliente ao tomar parte desta equipe extraordinária de especialistas da missão e agora astronautas. Eu mal posso esperar para dividir esta experiência com os aspirantes a astronautas em todo o mundo”, comemorou Branson, emocionado.

“Nossa missão é fazer o espaço mais acessível para todos. E nesse espírito, com o sucesso do voo de hoje da VSS Unity, estou entusiasmado em anunciar a parceria com a Omaze e Space for Humanity para inspirar a próxima geração de sonhadores. Por tanto tempo, temos olhado para trás com admiração aos pioneiros do espaço de ontem. Agora, eu quero que os astronautas de amanhã olhem para a frente e façam os próprios sonhos se tornarem realidade”, preconizou.

A expectativa da Virgin Galactic é que a operação comercial do voos espaciais tenha início em 2022, mas os preços dos bilhetes ainda não foram divulgados.

Branson (à dir.), o gênio empreendedor: de vendedor de discos baratos a agente de turismo espacial

Particularmente para Branson, o gênio empreendedor por trás do grupo Virgin – que começou como uma loja de discos baratos, em Londres, e hoje se divide nas áreas de investimentos, entretenimento e turismo, incluindo a companhia aérea Virgin Atlantic –, o sucesso deste primeiro voo totalmente tripulado o coloca na liderança da corrida espacial disputada entre três dos homens mais ricos do mundo e suas espaçonaves fantásticas.

Além da Virgin Galactic, de Branson, dono de uma fortuna estimada em 4,3 bilhões de dólares, estão neste páreo a Blue Origin, fundada pelo estado-unidense Jeff Bezzos, 57, o primeiro da lista dos grandes afortunados, criador da Amazon, a maior empresa de comércio eletrônico do mundo, e a SpaceX, do sul-africano radicado nos EUA Elon Musk, 50, fundador da fábrica de carros elétricos Tesla, que superou a Toyota no ano passado como a montadora mais valiosa do mundo.

Novos horizontes: a partir de agora, o espaço está aberto a quem puder pagar pela experiência

Na próxima terça-feira (20), será a vez de Bezos se lançar ao espaço, na primeira missão tripulada da sua nave New Shepard até a área de gravidade zero, em um voo com duração aproximada de dez minutos que alcançará a altitude de cerca de 100 km acima do nível do mar. Um novo capítulo a ser escrito na odisseia rumo ao turismo espacial.

Fonte: Virgin Galactic I Tradução e edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação




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