Fiat comemora 40 anos do primeiro carro de série “movido a álcool”

Unidade nº 1 entregue a cliente com motor desenvolvido para o combustível vegetal foi readquirida pela montadora e continua funcionando perfeitamente




Fiat comemora 40 anos do primeiro carro de série "movido a álcool" [Divulgação]

Em 5 de julho de 1979, chegava às ruas brasileiras o primeiro Fiat 147 “movido a álcool”, pioneiro no mundo a entrar em produção equipado com motor desenvolvido para funcionar com o combustível 100% vegetal e renovável.

Apelidado de “Cachacinha” por causa do odor característico exalado pelo escapamento, o Fiat 147 a etanol simbolizou um marco importante para a engenharia automotiva brasileira, que a partir daquela data ganhou um novo impulso para o desenvolvimento de tecnologias em prol de veículos mais eficientes e menos poluentes.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Divulgação]

Para celebrar o aniversário de quatro décadas de lançamento do “Cachacinha”, a Fiat levou para a pista de testes da fábrica de Betim (MG) a primeira unidade do 147 a etanol, exatamente como há 40 anos e parecendo ter acabado de sair da linha de produção.

O exemplar raro – que na época foi vendido para o Ministério da Fazenda, em Brasília – faz parte atualmente do acervo de clássicos da montadora e está praticamente original, sem necessidade de restauração.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Divulgação]

A história do Fiat 147 a etanol remonta a 1976, quando as pesquisas e desenvolvimento do motor movido ao derivado da cana-de-açúcar começaram – mesmo ano em que o 147 a gasolina foi lançado no Brasil, tornando-se o primeiro carro Fiat fabricado no país.

Vale lembrar que em novembro do ano anterior, o decreto n° 76.593 do presidente Ernesto Geisel criou o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, em decorrência da crise internacional do petróleo, iniciada dois anos antes.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Divulgação]

A iniciativa do governo tinha o objetivo de estimular a produção do álcool e visando o atendimento das necessidades do mercado interno e externo e da política de combustíveis.

Em sua primeira participação no Salão do Automóvel de São Paulo, naquele mesmo ano de lançamento do 147, a Fiat expôs um protótipo da versão a etanol com dezenas de milhares de quilômetros rodados. O ano seguinte foi dedicado ao aperfeiçoamento técnico do produto, além da produção de novas unidades que foram sendo submetidas a diversos testes.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Divulgação]

Em 1978, a Fiat desenvolveu o motor 1.3 de 62 cv de potência e 11,5 kgfm de torque que, durante os testes, acabou se mostrando mais adequado para o uso do que etanol que o propulsor a gasolina de 1.050 cm³, até então utilizado no 147. No início daquele ano, três Fiat 147 a etanol foram entregues ao DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) para serem experimentados no policiamento da Ponte Rio-Niterói.

Em setembro de 1978, um Fiat 147 100% a etanol realizou o que viria a ser o teste definitivo para criação do primeiro motor brasileiro a etanol: uma viagem de 12 dias e 6.800 km de extensão pelo país, percorrendo uma média superior a 500 km diários, três mil quilômetros por vias de terra e variações climáticas de mais de 30º C.

Rallye Internacional do Brasil 1979 [Arquivo l Rally.it]

No universo das competições, um dos grandes feitos do Fiat 147 a etanol foi conquistado por mulheres, no Rallye Internacional do Brasil, disputado em 1979, considerado o primeiro grande evento da modalidade realizado no país.

O Fiat 147 nº 73 da dupla formada pela italiana Anna Cambiaghi e pela brasileira Dulce Nilda Doege, da equipe francesa Aseptogyl, terminou em quarto lugar na classificação geral e foi o carro brasileiro melhor classificado na prova, que teve 2.200 km de percurso.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Reprodução]

Mesmo consumindo 30% a mais do que o similar a gasolina – por causa da necessidade de mistura ar-combustível mais rica e maior taxa de compressão dos cilindros -, o motor a álcool reduzia o custo por quilômetro rodado à menos da metade quando comparado com a versão movida pelo derivado de petróleo.

Com isso, o consumidor logo se interessou pelo 147 a etanol, o que é confirmado pelos números de vendas. De acordo com a Fiat, de 1979 a 1987, período em que esteve disponível no Brasil, foram vendidas 120.516 unidades.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Reprodução]

Por ser o pioneiro entre os carros a etanol, o Fiat 147 foi também o primeiro a encarar algumas características do combustível, como o baixo poder calorífico em relação à gasolina. Na prática, isso significava a famosa dificuldade para dar a partida em dias frios. “Para resolver esse problema, a engenharia instalou o reservatório de partida a frio. Um botão no painel do carro acionava uma bombinha igual à do lavador do parabrisa, que injetava no coletor de admissão uma quantidade de gasolina suficiente para dar a partida, principalmente em baixas temperaturas”, detalha Robson Cotta, gerente de Engenharia Experimental da Fiat Chrysler Automóveis (FCA).

Outra solução necessária, desta vez para proteger as peças do motor do efeito corrosivo do álcool, foi a aplicação de uma camada de níquel químico nos componentes, incluindo o corpo do carburador, além da instalação do conjunto de escapamento aluminizado.

Fiat 147 1979 “movido a álcool” [Divulgação]

Para João Irineu, diretor de Assuntos Regulatórios e Compliance da Fiat Chrysler Automobilile (FCA), o etanol tem elevada importância para os futuros lançamentos do Grupo.

“Começamos há 40 anos com um sistema de carburador e hoje trabalhamos no desenvolvimento de sistema turbo, injeção direta e uma série de alternativas que serão incorporadas ao motor a etanol para melhorar o desempenho em relação ao motor a gasolina.” E conclui: “O etanol foi, é e sempre será importante para nós. É estratégico para a companhia e tem papel muito importante na redução do efeito estufa.”




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