Há 50 anos, supersônico Concorde ganhava os céus pela primeira vez

Capaz de superar em duas vezes a velocidade do som, a quase 2.500 km/h, projeto franco-britânico inaugurou uma era fascinante e única na aviação mundial




Há 50 anos, supersônico Concorde ganhava os céus pela primeira vez

Meio século atrás, um acontecimento marcou a história da aviação para sempre. Em um domingo, 2 de março de 1969, às 15h38, o Concorde fez seu primeiro voo experimental, colocando um ponto de partida em sua fantástica jornada.

Por volta de 1955, os primeiros traços de um avião comercial supersônico foram colocados no papel – literalmente –, de ambos os lados do Canal da Mancha. Tanto no Reino Unido quanto na França, o objetivo era não ficar para trás no mercado de aviação dos Estados Unidos.

O Concorde 001, prestes a fazer a primeira decolagem da história do supersônico

Do lado francês do Canal, a fabricante aeronáutica Sud Aviation (depois rebatizada como Aerospatiale e, hoje, Airbus) e a Générale Aéronautique Marcel Dassault (atualmente Dassault Aviation), usaram seus conhecimentos de aviação comercial e supersônica, respectivamente, para iniciar um projeto em conjunto. O modelo Caravelle da Sud Aviation já era uma figura icônica no mercado.

Paralelamente, a empresa também já vislumbrara a ideia de um aeroplano que pudesse viajar em velocidade de Mach 2 – duas vezes a velocidade do som, o que corresponde a 2.470 km/h -, tal como o caça Mirage IV que estava em desenvolvimento pela Dassault e viria a ser um dos pilares do poderio bélico da França.

Elas juntaram forças e apresentaram o “Super Caravelle” na feira aeronáutica de Le Bourget, nos arredores de Paris, em 1961. O avião foi concebido para transportar 70 passageiros a uma velocidade que poderia variar entre Mach 2 a 2.5, portanto, acima de 3.087 km/h.

Linha de montagem do Concorde durante a produção dos protótipos

Ao mesmo tempo, do outro lado, a Bristol Aeroplane Company, contratada pelo Comitê de Aeronaves Supersônicas de Transporte apresentou vários desenhos, todos maiores do que o Super Caravelle. O programa culminou com o Bristol Type 223, um avião capaz de transportar cerca de 100 passageiros a uma velocidade pouco menor do que Mach 2.

Para dividir os custos do que as previsões indicavam ser um projeto dispendioso, estimado em 70 milhões de libras esterlinas, os governos britânico e francês negociaram. Em novembro de 1962, eles firmaram um acordo para o investimento mútuo no desenvolvimento do projeto e, assim, começava a nascer o Concorde. No entanto, por conta de uma série de atrasos e dos custos excessivos até que a aeronave entrasse em operação, o valor acabou chegando perto dos dois bilhões em moeda britânica.

Apresentação do primeiro protótipo do Concorde em 1967

O nome Concorde vem do termo francês concorde, que tem o equivalente em inglês concord – ambos com os mesmos significados de “acordo”, “harmonia” ou “união” – refletindo, assim, de forma metalinguística, a aliança binacional que viabilizou o projeto.

O primeiro protótipo da supersônico foi construído em Toulouse, na planta da Sud Aviation. O Concorde 001 deixou a linha de montagem em 11 de dezembro de 1967, diante de uma centena de espectadores.

Primeiro voo experimental do Concorde durou pouco mais de 40 min

Dois anos depois, naquele dia 2 de março de 1969, após todos os sistemas terem passado por um longo período de testes, o “grande pássaro branco” se encaminhou para a pista do aeroporto local para o voo de 42 minutos, fazendo com que um dos maiores feitos da engenharia aeronáutica ganhasse os céus pela primeira vez.

O Concorde 001 e a tripulação do primeiro voo experimental, em 2 de março de 1969

A bordo estavam o piloto chefe de testes André Turcat, o copiloto Jacques Guidnard, o engenheiro de voo Michel Rétif e três observadores. Haviam passado dois anos desde que o protótipo fora revelado ao público e com três anos de atraso. Nessa ocasião, a aeronave nem passou perto da velocidade supersônica. Ao contrário, o Concorde 001 nem chegou a ter o seu seu nariz levantado ou o trem de pouso recolhido, voando o tempo todo com as rodas baixadas até retornar à base.

Ao todo, foram construídas vinte unidades do Concorde até 1979, sendo dois protótipos de desenvolvimento, quatro de pré-produção (não operacionais) e os 14 que foram integrados à atividade comercial.

Catálogo da viagem inaugural do Concorde pela Air France com destino ao Rio de Janeiro

A estreia do Concorde em voos comerciais aconteceu apenas em janeiro de 1976. A British Airways iniciou a rota entre Londres e Bahrein, em 21 de janeiro, mesmo dia em que a Air France colocou em operação o primeiro voo de Paris ao então Aeroporto do Galeão (hoje Tom Jobim) no Rio de Janeiro, com escala para reabastecimento em Dakar, capital do Senegal, no continente africano.

Única imagem do Concorde em velocidade Mach 2, feita a partir de um caça, em 1985

Até que fossem vencidas as objeções nos Estados Unidos em relação ao ruído da aeronave, o primeiro voo para Nova Iorque foi realizado em 22 de novembro de 1977. Nesta rota, o Concorde levava cerca de três horas e meia para cruzar o Atlântico – distância que, atualmente, é coberta no dobro desse tempo.

Na sequência, outros destinos foram incluídos, como Singapura, Cidade do México, Miami, nos Estados Unidos, e o arquipélago de Barbados, no Caribe.

Acidente nos arredores de Paris, em 2000, contribuiu para o fim das operações

Em decorrência do único acidente com vítimas ocorrido com o modelo, em 2000, nos arredores de Paris, que provocou a morte de 113 pessoas, e da grave crise na aviação deflagrada pelo atentado ao World Trade Center, no ano seguinte, a Air France e a British Airways decretaram o fim da jornada do Concorde em 2003, após 37 anos de operação.

Curiosamente, após um voo de teste vazio, realizado em julho de 2001, para validação das modificações de segurança efetuadas no modelo, a primeira viagem do Concorde depois da trágica queda aconteceu no dia 11 de setembro, vindo de Londres com funcionários da British Airways a bordo, pousando em Nova Iorque horas antes do atentado às Torres Gêmeas.

Protótipo nº 001 que fez o primeiro voo experimental está no museu de Le Bourget, em Paris

Hoje, o Concorde 001, o mesmo que alçou voo pela primeira vez em 1969, está exposto lado a lado com um dos exemplares que foram operados pela Air France no Museu Aeroespacial do aeroporto de Paris-Le Bourget.

No vídeo documentário abaixo, produzido pela Airbus, é possível acompanhar toda a trajetória de desenvolvimento do Concorde, incluindo o primeiro voo experimental e as belas imagens da passagem da aeronave ao lado do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. Aperte o play e viaje nesta fantástica história do gigante supersônico:

MODELOConcorde
Capacidade100 passageiros e 2,5 toneladas de carga
Acomodações100 assentos – 40 na cabine dianteira e 60 na traseira
Autonomia6.667 km
Propulsão Quatro turbinas Rolls-Royce/Snecma Olympus 593s, com 38.000 libras de empuxo, cada
Velocidade de decolagem400 km/h
Velocidade de cruzeiro2.160 km/h (Mach 2) a 18.288 m de altitude (60.000 pés)
Velocidade de aterrissagem300 km/h
Comprimento62,1 m
Envergadura25,5 m
Altura11,3 m
Largura da fuselagem2,9 m
Capacidade de combustível119.500 litros
Consumo25.629 litros por hora
Peso máximo de decolagem185 toneladas
Trem de pousoOito rodas principais, duas rodas na dianteira
Tripulação de vooDois pilotos e um engenheiro de voo
Tripulação de cabineSeis comissários

Fontes: Aerorime, British Airways e Wikipedia I Tradução e edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação e reproduções da internet

Atualizado em 02/03/2021




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