Artemis inaugura viaduto para travessia de animais no RJ

Objetivo da estrutura vegetada é preservar espécies nativas ameaçadas de extinção, como o mico-leão-dourado. Obra é contrapartida à duplicação da BR-101/Norte




Viaduto para travessia de animais é inaugurado no RJ

O primeiro passo para a reaproximação entre os grupos de micos-leões-dourados que habitam a área de Mata Atlântica atravessada pela BR-101/Norte, no Rio de Janeiro, foi dado no último domingo (2), com a inauguração de um viaduto com cobertura vegetal, no município de Silva Jardim (RJ). Essa é a primeira das duas estruturas do tipo a serem implementadas pela concessionária Arteris Fluminense, em contrapartida à duplicação do trecho entre as cidades de Campos dos Goytacazes e Rio Bonito, conforme a matéria publicada pela Agência Brasil.

A construção vai conectar a Reserva Biológica Poço das Antas, um dos principais habitats do Mico-Leão-Dourado – espécie ameaçada de extinção e endêmica (nativa) da região –, à fazenda Igarapé, formando corredores ecológicos para interligar fragmentos isolados da floresta. Dessa forma, acreditam os responsáveis pelo projeto, será possível o fluxo genético entre as populações selvagens, bem como reduzir os atropelamentos desses animais.

Viaduto vegetado sobre a BR-101/Norte, no município de Silva Jardim

Localizado no km 218 da rodovia BR-101 RJ/Norte, o viaduto mede 54 metros de comprimento por 20 m de largura e, para a condução dos animais ao dispositivo, é complementado por rampas de acesso e cercas vivas com 2 m de altura. A cobertura vegetal, composta por folhagens e árvores nativas da Mata Atlântica, foi definida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e teve as primeiras mudas plantadas também ontem.

Criado a partir de um conceito inovador desenvolvido pela concessionária, o projeto do viaduto vegetado recebeu as aprovações da Agência Nacional de Transportes Terrestres (Antt), órgãos ambientais locais, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do ICMBio, com investimentos de R$ 9 milhões.

Cobertura vegetal será formada por espécies nativas da Mata Atlântica

A construção faz parte de uma série de equipamentos a serem implantados entre o km 190,3 e o km 261,2 da rodovia, no trecho que liga os municípios de Casimiro de Abreu e Rio Bonito. O conjunto de passagens de fauna inclui outras quatro estruturas de concreto, mais seis de metal. Inéditas em rodovias federais do país, ambas têm como objetivo interligar árvores de uma margem à outra da rodovia, formando conexões copa-a-copa, detalha a concessionária. Adicionalmente, o projeto também contempla 15 passagens subterrâneas e nove sob vãos secos das pontes, com investimentos superiores a R$ 52 milhões. Ainda segundo a Arteris, com toda essa infraestrutura, o segmento de 72 quilômetros da BR-101/Norte contará com a maior diversidade de tipos de passagens para animais silvestres do Brasil.

“O viaduto vegetado, por seu caráter inovador e inédito nas rodovias federais, será monitorado de forma a mensurarmos como esta estrutura vai contribuir para a preservação da fauna da região. Após este trabalho de longo prazo, será possível avaliarmos a se o dispositivo é uma alternativa viável em comparação com as demais comumente utilizadas no país, como é o caso das passagens inferiores”, afirma Marcello Guerreiro, coordenador de meio ambiente da Arteris Fluminense e integrante do conselho consultivo das Rebios (Reservas Biológicas) Poço das Antas e União.

Vista aérea da Reserva Biológica Poço das Antas

No entanto, há ainda uma questão vital a ser resolvida para que o viaduto inaugurado cumpra sua função, efetivamente. Entre a estrutura e a Reserva Poço das Antas, existe uma faixa de cerca de 25 m de largura, por onde passam gasodutos da Petrobras, sem qualquer tipo de vegetação – e, portanto, servindo como barreira para o trânsito de animais, assim como a própria rodovia.

A reportagem da Agência Brasil afirma que já existem conversas com a estatal para ligar o viaduto à área florestada da reserva. Uma das possibilidades é plantar árvores em ambas as margens da faixa de gasodutos e conectar as copas dessas vegetações com pontes feitas de cordas e madeira.

Mico-leão-dourado é uma das espécies em risco de extinção na Mata Atlântica

O mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia) é uma espécie típica da bacia do Rio São João, no interior do estado do Rio de Janeiro. Ameaçado de extinção, se tornou um símbolo da luta pela preservação da Mata Atlântica. A Reserva Biológica Poço das Antas, oficializada em 1974, foi a primeira área desse tipo criada no país com o objetivo de preservar a Mata Atlântica e proteger espécies como o mico-leão e a preguiça-de-coleira.

Segundo o presidente do conselho da organização não governamental Associação Mico-Leão-Dourado e professor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Carlos Ramon Ruiz, com a duplicação da BR-101, feita recentemente pela concessionária que administra a via, a reserva de Poço das Antas ficou completamente isolada do restante da Mata Atlântica.

Conexão entre grupos é vital para a preservação do mamífero

As passagens subterrâneas, que existem sob a rodovia, não funcionam para o trânsito de micos-leões. Com isso, a população de micos-leões daquela área perdeu a possibilidade de se comunicar e se misturar com outros animais da mesma espécie que vivem do outro lado da rodovia. O resultado é a pouca variabilidade genética da população futura.

“Se ficarem isolados, será difícil manter essa população viável eternamente. Teríamos que ficar fazendo manejos, tirando e colocando animais [de outras localidades] dentro da reserva”, explica Ruiz.

Espécie é nativa da região da Reserva Biológica Poço das Antas

A prova de que uma população isolada e sem diversidade genética tem problemas para se manter viável em longo prazo foi um surto de febre amarela, ocorrido em 2016 no estado do Rio. Com a doença, a população de micos de Poço das Antas foi dizimada, passando de 300 indivíduos, para cerca de 30 a 40, de acordo com Ruiz. Para repovoar o local, depois do surto foi necessário trazer animais de outros locais.

Ainda segundo o pesquisador, os micos devem demorar alguns anos para começarem a usar o viaduto, até que as mudas de espécies nativas da Mata Atlântica plantadas no local atinjam o porte e o adensamento ideais. “Se esse plantio funcionar bem, em cerca de quatro anos deve ter vegetação suficientemente alta e contínua para que os micos-leões e outros animais atravessarem o viaduto”.

Fontes: Agência Brasil e Arteris I Edição: Fábio Ometto I Imagens: Divulgação Arteris e Assoc. Mico Leão Dourado




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